segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A vida de um professor do Estado

Pode até parecer mentira, mas ando em crise com minha profissão... Não porque fiz a escolha errada, a faculdade errada, ou entrei para o cargo errado. Pior de tudo, desde que nasci eu sabia o que queria ser! Brinco que, quando minha mãe me pariu, alguém lá do céu gritou: "Lá vai mais uma professora!". Espero que essa voz tenha vindo mesmo do céu, pois saibam que ultimamente tenho tido uma relação INFERNAL com essa minha "bendita/maldita" escolha.
Também não é pelos alunos, porque posso jurar de pé junto, que eles sempre foram a minha maior alegria! Mesmo quando assistiam aula sentados dentro de uma latão de lixo, ou até quando me chamavam de "fia" (O que é que você quer, fia?, dizia um garoto da 4ª série quando estava muito bravo com a vida e o mundo), ou quando me chutavam nos momentos de apartar homéricas brigas! São crianças! Resolviam seus problemas, buscavam respostas para suas questões mais enlouquecedoras e, ao final do ano, sempre chorávamos por saudades daqueles 200 dias letivos que vivemos com tanta intensidade. Sim eu sei, gosto de ser professora pelas crianças e por todas as aprendizagens que alcançamos durante um ano juntos. Gosto porque não nos esquecemos nunca - ainda recebo mensagens de alunos no orkut e respondo a todas com sinceras saudades.
Acho que minha gigantesca indignação é com os adultos que pensam que cuidam de nós, professores. Cuidam nada, eles nos massacram com esses números ridículos em nossos holerites ao final de cada suado mês de trabalho.
Quem gasta 50 reais no mês para se locomover até trabalho? Divida esse valor pelos dias úteis ida e volta? Qual é a cidade do Estado de São Paulo que eles se baseiam para pagar esse valor aos professores? Nem de charrete acho que seria possível... E quem gasta menos de 80 reais no mês para comprar comida no supermercado? Professor, lógico! Nós vivemos de utopia e não de arroz e feijão. Acho que eles pensam assim.
Fiquei sabendo que nosso atual (e já tão antigo) governador adora comer doces, que sempre tem guloseimas em seu gabinete. Bom, podíamos fazer a seguinte experiência: "Sr. Alckmin, o senhor ganharia apenas em um mês nosso salário de professor. Quanto será que sobraria para seu delicioso passatempo? Provavelmente ficaria - e olhe lá - com um saco de açúcar para adoçar os seus dias.
E às vezes me pergunto: por que PEB I ganha menos que PEB II? O que é que eles fizeram, ou fazem, mais que a gente? Deve ser por base na idade dos alunos, quanto mais velho, maior fica a merreca do salário. É, se fosse assim, professor que dá aula na EJA ganharia um salário decente!
Aos futuros professores, um conselho: chega uma hora que não dá para viver só de ideologia. Para melhorar a qualidade da educação pública do nosso país, nossa ação precisa extrapolar a sala de aula.
É que não somos só professores, somos pais e mães, maridos e esposas, homens e mulheres que precisam viver a vida com a mesma dignidade que os engenheiros, médicos, empresários, jornalistas, deputados, senadores, etc.
Talvez eu não consiga desistir nunca dessa profissão que escolhi... Deve ser como aquelas doenças que ainda não existe cura, que a ciência não consegue explicar, que só o tempo pode ajudar. Mas que esse tempo não tarde a chegar, concorda?