terça-feira, 19 de novembro de 2013

QUERIA SER POETA

Queria ser poeta
para descrever o encanto de um sorriso
a magia de uma descoberta
a cumplicidade do silêncio.
Queria ser poeta...
pra botar a boca no vento
rasgar o peito e dar um grito
Falar de um mundo justo
Com a delicadeza e a força
de uma poesia.
Queria ser poeta
para ter liberdade,
e com licença poética,
dizer com toda beleza
meia dúzia de palavras de indignação
que desabrocham no meu coração.
(Pra rimar e fazer de conta que é poesia!)

Escrito por alguém que queria ser poeta: eu.

 

domingo, 20 de outubro de 2013

O Zero a esquerda e a criança pequena

                Essa história é sobre a incrível descoberta das crianças de um 3º ano sobre o "zero a esquerda". As crianças são os meus alunos, e o zero a esquerda veio da nossa pesquisa sobre como fazer um jardim mandala. Isso mesmo, tudo começou por causa de uma flor!

               
               Em uma das lições de casa, a turma pesquisou sobre flores possíveis de se plantar em nosso jardim e preencheram uma ficha técnica, a qual continha o nome popular da flor, nome científico, altura, luminosidade e outros cuidados. Tiveram como referência uma ficha anterior que estudamos e depois, pesquisaram flores que havíamos selecionado coletivamente. Em seguida, cada um escolheu duas flores que gostava muito e preenchia a ficha.  


           

              Essas fichas foram recolhidas e em uma conversa posterior, levantamos novamente os critérios necessários para a escolha das flores do jardim mandala.

Critérios de seleção das flores:
  Ter altura entre 10 a 30 centímetros
Gostar de luz plena ou meia sombra  
Gostar de pouca água
  Florir durante o ano todo
                

             A partir disso, começamos a conversar sobre a primeira ficha técnica trazida por um colega. Foi aí que o assunto prosperou:


Professora: A flor se chama Borboletinha e tem 0,3 metros de altura. O que vocês acham? Ela atende aos critérios? 0,3 metros é uma boa altura? Quanto é 0,3 metros?
                As crianças mostravam o tamanho usando as mãos, levantando suas hipóteses.

Aluna: Olha, eu não sei que tamanho é, mas sei que tem menos de um metro!

Professora: Por que é menos? Como você sabe?
Aluna: Começa com zero!

Professora: Mas quanto tem um metro?
Aluno: 100 centímetros!

Professora: Vocês concordam?
Todos: Sim!

Professora: Bem, então antes de qualquer coisa, vamos apurar essa informação!
 
              Iniciamos o trabalho de montar uma fita métrica. Utilizei como referência a proposta do livro didático Matemática Paratodos (IMENES, Luis Márcio. Matemática Paratodos: 2ª série. São Paulo: Scipione, 2004), a qual tinha como objetivo colar as tiras da fita métrica para depois contar os centímetros (10 cm a cada tira). Logo que as fitas ficaram prontas, automaticamente, começaram a medir portas, mesas, colegas, etc.
 

                Depois, voltamos a conversar:

Professora: Essa fita tem quantos centímetros?
Todos: 150 centímetros!

Aluno: Tem mais de um metro. Ela tem um metro e meio!
Professora: E como escrevemos isso usando números?

Aluno: 1,5

Professora (anotando na lousa): Tudo bem! O 1 representa o quê?
Todos: 1 metro

Professora: E o 5?
Aluno: Metade de 1 metro. 50 centímetros!

Professora: Vocês concordam?
Todos: Sim! - olhando e dobrando a fita métrica que fizeram.

Professora: Se 1,5 é um metro e meio, quanto será se eu tirar o 1 e deixar assim? - escreve 0,5 na lousa.
Todos: 50 centímetros

Aluna: Peraí! Se 0,5 é 50 centímetros, como a gente escreve 5 centímetros?
Professora: E aí, o que você acham?

                Nesse momento a turma começou a levantar suas hipóteses e eu anotava tudo na lousa. Eles falaram 50, 15, apenas 5... mas não estavam satisfeitos. Até que um aluno comentou:

Aluno: Ah, deve ser 0,000...5!
Professora: Como assim? Me explique melhor?

Outro aluno: É! Lembra daquele texto da menor semente do mundo, da orquídea, que era 0,0000... deve ser assim.
Aluno: 0,005... Não! 0,05.

Professora: Vocês concordam com ele?
Todos: Sim!

Aluno: Se era 0,5 e o 5 valia 50. Agora 0,05 tem o zero e ficou 5! 5 centímetros!
Aluno: Igual as casas de dezena e unidade.

Professora: E quanto vale 0,3 metros da flor Borboletinha?
Todos: 30 centímetros!

Professora: E quanto é 0,03 metros?
Todos: 3 centímetros!

Professora: Tem uma outra coisa que nós usamos sempre, que também tem essa mesma representação. Alguém sabe?
Aluna: Moeda, dinheiro, centavos! 0,50 centavos ou 0,05 centavos. 
                   
                   Dessa forma encerramos nossa primeira conversa sobre as medidas e o uso do zero e da vírgula. As crianças ainda registraram essa descoberta com desenho e escrita. Prosseguimos com o trabalho de seleção das flores, das medidas do nosso jardim... outras histórias e tantas novas descobertas.






sábado, 10 de agosto de 2013

PASSEIO RELÂMPAGO NUMA CADEIRA DE RODAS

Se você precisa ir ao shopping para resolver alguma coisa rapidamente, você chega no estacionamento, encontra um lugar para colocar seu carro, entra no shopping, resolve seu problema e, se der tempo, ainda passa numa fila de fast food e já come um lanchinho. Simplesmente simples! Sinto saudades de quando a vida era assim...
 
Resolvemos ir ao shopping em plena véspera de dia dos pais. Tudo bem, já estamos craques em fazer esse tipo de programa com as 3 crianças pequenas, mas havia algo que mudaria a eficiência da nossa equipe. Nesta semana estamos desfalcados: João, o mais velho, está com o pé engessado. O papel dele nos encaminhamentos da família são essenciais: atender o telefone, pegar brinquedos para o Lucas, olhar a irmãzinha em cima da cama, etc. O menino passou todos esses dias sentado no sofá e muitas vezes chegamos a chamar a sua atenção: "Vamos João!" (Como dizemos sempre!), só que o menino não podia sair do lugar!!!
 
Sem contar o dia que eu o levei para o hospital para engessar o pé: não tinha como deixar o carro no estacionamento e levá-lo até a recepção. Deixei meu filho sentado na porta do hospital com uma pessoa desconhecida e saí à procura de uma vaga para parar. Mas, antes de ir, gritei: Filho, não saia daí! As pessoas que estavam perto riram e eu me dei conta do tamanho da bobagem que falei. Ele não sairia nunca dali com aquele pé machucado!
 
Voltemos ao shopping e à véspera do dia dos pais...
Logo no estacionamento pensamos: não daria para parar. Teríamos que ficar na porta de entrada, descarregar a trupe do carro, sentar num banco e esperar o papai voltar. Até aí, tudo certo pra gente. Só as pessoas que ficaram paradas olhando: primeiro desce o menino carregado e engessado; depois desce uma bebê e é colocada num carrinho; em seguida, outro menino pequeno que sai fugindo dos pais. Tudo certo por enquanto...
 
Ainda bem que a loja era bem perto da entrada, mas... e como faríamos para tomar um lanchinho? Vamos emprestar uma cadeira de rodas para o João! Só que a dita cuja ficava láááááááá do outro lado do shopping. Ok, você fica com o engessado e a bebê, que eu fico com o fugitivo mirim. Legal!
 
E fomos nós dois: eu e meu filho do meio, Lucas, rumo ao outro extremo do lugar, emprestar uma cadeira para o João poder se locomover no shopping. Quando já estávamos com a cadeira, recebi uma ligação avisando que o presente que eu encomendara para o dia dos pais estava em frente à minha casa, e que eu precisava estar lá para pegá-lo. Como assim? E o shopping? A cadeira? As crianças? Sentei o menino naquele treco e saí em disparada ao encontro do resto da família. Eu e o Luquinhas corríamos muito e, o shopping já LOTADO, abria caminho para passarmos. Por que eu corria? Também não sei... Ultimamente, vivo nessa pilha constante, nessa liberação de adrenalina incontrolável e corro sem motivo porque não sei mais viver de outra forma.
 
E por estar correndo tanto,  ao chegar à porta da loja onde estava meu marido e meus outros filhos, não consegui fazer a curva com aquela cadeira de rodas e bati naquele enorme vidro. PUM!!! Claro que o Lucas voou para fora da cadeira e bateu com a testa na porta. Meu Deus, meu filho!!! O meu marido correu para acudir a criatura pequena que abriu a boca para chorar. Nem deu tempo de olhar para as pessoas da loja, dessa forma não enxerguei nenhum olhar repressor.
 
Continuei a correr, agora sozinha, quem sabe daria tempo de sair com o carro sem pagar o estacionamento. Eu tinha a certeza que nem havia passado 10 minutos nessa história toda. Corri para o carro, corri com o carro e cheguei na catraca de saída. "Insira seu cartão de estacionamento", está aqui, calma! Inseri e... "Seu cartão não foi pago!". Ah, vá para o inferno!!!
 
Voltei para a loja e peguei minha família toda que, a essa altura do campeonato, já tinha duas crianças com a fralda cheia de cocô. Vamos, vamos, todos para o carro. E A CADEIRA DE RODAS? Não! Não! Não! Eu não iria até láááááááá só para devolver essa porcaria. Pedi para a mulher da casa de empadas, ela não aceitou dizer nada para os seguranças. Deixei a bendita de rodas num canto perto da porta com o papel onde havia o registro de TODOS OS MEUS DADOS PESSOAIS. Agora já era!
 
E volta a turma para o carro: primeiro o menino que costuma fugir, depois a menina bebê e, em seguida, o garoto do pé engessado. Ah, não esqueça do carrinho e do pagamento do cartão de estacionamento.
"O shopping agradece a sua visita!", disse a gentil moça da catraca!
 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Desintoxicação "televisional"

          Ele simplesmente ignorou a minha fala de que "a televisão deve ser desligada às 9h da manhã". Fui para o trabalho e, quando liguei para saber se estava tudo bem em casa, tive a notícia que ele ainda estava de pijama e com a TV ligada. Isso era quase 10h. Dei a ordem expressa que ele deveria desligar aquilo e tirar o pijama e escovar os dentes e... e... fazer qualquer coisa que não fosse ficar sentado naquele sofá vendo desenho. Tudo bem, era o primeiro dia de férias do meu filho mais velho...
         Quando cheguei em casa, depois do almoço, às 14h, vi que ele estava sentado vendo TV. Perguntei: "Você cumpriu o combinado de hoje? Desligou às 9h?". Sem ao menos olhar pra mim ele disse "aham". Achou que me enganava! "Faz tempo que você está vendo ou ligou a TV agora?" Olhos fixados no programa "aham. É... eu liguei agora." "Filho, olha pra sua mãe, vou te dar a chance de me dizer a verdade: você cumpriu o combinado?". "Aham!". "Me dá esse controle! Eu vou desligar isso AGORA! Me dá o controle, menino! Se você dificultar as coisas ficará sem ver essa porcaria!".
          Nesse momento meu filho se transformou num desses personagens horrorosos do Cartoon, um ser "sombrio" com ódio nos olhos. Ele lutava comigo pelos controles da mesma forma que esses "pseudos heróis" (ou anti heróis) lutam na TV. Urrava, fazia vozes, dizia palavras estranhas, armava seu corpo para uma batalha - uma batalha contra a sua própria mãe. Achando que tudo aquilo estava indo longe demais, mantive a calma. Tirei as pilhas do controle e escondi no bolso de um casaco no guarda roupa.
         Ele corria e gritava pela casa. Chorava e uivava, como um lobo. Desarrumou a cama do irmão (claro que a dele ficou intacta!), bateu portas, gritou, gritou... Cansou! Voltou para cima de mim, apontou o dedo no meu nariz e disse "Traidora!". Traidora, eu? Pobre mãe tonta que faz tudo por ele, mas isso não poderia ficar assim. "Para filho, se acalma! Isso vai ser pior para você!" "Suma da minha casa, vai embora, sua mãe ruim!". Eu sei, ele tinha certeza que estava vivendo um dos seus seriados da televisão... só que eu estava ficando brava com tudo isso!
         Para quem conhece o meu filho mais velho ou que acompanha as histórias do Blog, sabe que o João é calmo, uma criança passiva e boazinha. Mas quando a fúria vem (e normalmente é com a mãe, claro. Freud explica!) ela é avassaladora e terrível.
          Dei um basta. Um grito e um chacoalhão! "Pode parar menino, você passou dos limites agora! Você está proibido de ver televisão atéééééé´eu achar que pode voltar."
          João chorou, arrependeu-se, pediu desculpas... mas eu continuava invicta sobre o tempo sem ver televisão. No primeiro dia ele ficou perdido, chorou muito quando chegou o horário do seu programa favorito. Teve até tremedeira, fraqueza, indigestão... De fato, minha gente: desintoxicação!
          Só que, ao se ver sem a dita cuja, ele começou a pensar em coisas alternativas para fazer. E nesta noite, antes de dormir, ele leu um livro. No outro dia, redescobriu os brinquedos do seu quarto. Percebeu que é divertido brincar de correr pela casa com seu irmão mais novo. Passou horas me ajudando a fazer as coisas da escola, conversando, trocando ideias e elaborando muitas perguntas. Foi ao supermercado e leu preços, comparou produtos e escolheu guloseimas. Aprendeu a fazer mágica. Dormiu até mais tarde num dia de chuva. Ensinou o nome de cada "trash pack" para o seu irmão...
          Nesses dias meu filho está aprendendo a ser mais criança, a viver no mundo de onde ele realmente  faz parte. E eu estou aprendendo que vale a pena dizer não para poder estar mais ao lado dele. Claro que às vezes é mais fácil ligar a televisão e deixar que ela domine seus filhos enquanto você faz outras coisas. Difícil é parar tudo para inventar uma brincadeira, ler as regras de um jogo para poder jogar, fazer uma receita e deixar que as crianças entrem e baguncem a sua cozinha.
          
            "Oh Crideeee, fala pra mãe! Que tudo o que antena captar, meu coração captura!"
           
                   
         
          


domingo, 23 de junho de 2013

Tudo feito à mão no aniversário do João

          Vivemos na época da terceirização e contratamos serviços para tudo: marido de aluguel, acompanhante de balada, passeador de cães e até amigo. Contratamos empresas para fazer comida em casa, para fazer regime, acessoria para todo e qualquer tipo de assunto. Cada vez mais fazemos menos! Com esse novo jeito de viver, oferecemos outras lembranças para nossos filhos como, por exemplo, a organização das festinhas de aniversários. Veja só:
          Você sai pela cidade, busca referência de amigos para fazer a festa em um buffet. Cota preços, leva seu filho para ver se as atrações do espaço o agrada, prova uns quitutes, escolhe o sabor do bolo, contrata o fotógrafo. Chega o dia: você toma banho, arruma seu filho, estaciona seu carro, senta em uma mesa, conversa com os convidados, come, canta parabéns e vai embora. Claro, seu filho está exausto de brincar na cama elástica e de jogar games. E com certeza não deve ter comido nada na festa!
          Agora eu vou voltar um pouco no tempo, lá para a minha infância numa cidade pequena do interior. Lembro do cheiro do bolo assando, do brigadeiro na panela, da massa de esfiha sendo esticada na pia. Eu fazia todos os convites e preparava uma lista enorme de amigos da rua, da escola, do catecismo, etc. Minha mãe decorava o bolo e inventava enfeites. Eu ajudava a enrolar os brigadeiros e passar no granulado; enrolava três e comia dois. Era uma delícia! Tinha garrafinha de refrigerante (ninguém se preocupava que era de vidro!), cachorro quente, disco de vinil, brincadeiras, presentes abertos na cama e papel embaixo dela para dar sorte. Nós enchíamos todas as bexigas, amarrávamos nas paredes. A casa ficava cheia de gente ajudando a preparar a festa! E quando chegavam os primeiros convidados, o aniversariante ainda nem tinha tomado banho.
          Minha mãe sempre disse essa sábia frase: "o melhor da festa é esperar por ela!". Realmente!
          Esse ano decidimos fazer o aniversário do João Vitor "feito à mão". Isso significa colocar a mão na massa, criar, inventar, enrolar, experimentar, estressar... é que com três filhos não dá para ser de outra forma!
         O João escolheu um tema - ele adora escolher temas para as festas - que foi "Trash Pack", uma coleção de monstrengos que vem dentro de uma lata de lixo. Para realizar as ideias precisamos unir forças para executá-las! Não tem jeito: envolvemos muitas pessoas para ajudar numa festinha de aniversário, cada uma contribui com algo que saiba fazer. E essa é uma linda lembrança que podemos dar aos nossos filhos: pessoas queridas dando o melhor de si para ajudar!
          O melhor momento dos preparativos foi quando a cozinha virou uma fábrica de brigadeiros coloridos e de trashs de massinha! O pai estava dando um de escultor meticuloso... o filho vidrado vendo aquele rolinho colorido tomar  a forma de seus monstrengos favoritos! A mãe e a avó enrolando brigadeiros e a cada bolinha, um assunto diferente, um desejo, um sentimento... Tudo feito com as mãos. Elas são as responsáveis pela transformação de todas as coisas, são poderosas armas humanas!
         





          A festa foi intensa, cheia de crianças, aquele som gostoso de alegria preenchendo cada espacinho da nossa casa. Recebemos nossos amigos e familiares, que nos ajudaram a servir, a comer, a cuidar das crianças, revezar colo... Nosso filho estava em êxtase! Aproveitou cada segundo da sua festa de aniversário!
          Quando tudo terminou, o barulho deu espaço para o silencio de "ufa, conseguimos!" e perguntei para o João se ele havia gostado da festa. Só que a canseira mal deu jeito de responder; apenas um "uhum" afirmou que valeu a pena. O resto a gente deixa por conta do tempo, quando ele contará para seus filhos sobre os seus aniversários que ainda eram feitos "à mão"!

domingo, 2 de junho de 2013

Proibido fantasma!

Hoje me surpreendi com essa mensagem na porta do quarto dos meninos:

Proibido fantasma!

Foi isso que disse meu filho mais velho, João. Ele inventou, desenhou, pintou, recortou, procurou um durex, pediu para o pai cortar um pedaço e colocou na porta do quarto.
Achei brilhante a sua ideia, sem contar o estilo do desenho, com esse fantasma de braços pra fora do "proibido". Como se ele quisesse sair voando...
O Lucas olhou desconfiado para a placa, pareceu estar amedrontado com essa história de fantasma no quarto. "É bu, mãe?", disse ele.
Pelo menos agora estão livres de fantasmas.
Já fiz a encomenda para o meu quarto: proibido crianças! O João não gostou da ideia; disse que fará proibido ladrão. Ladrão de cama e travesseiro? Já resolve o meu problema!


quinta-feira, 25 de abril de 2013

AS VANTAGENS DE SE TRABALHAR COM CRIANÇAS


                   Volta à escola depois de quatro meses de licença maternidade. Você deixa um filho em casa e vai com os outros dois para o trabalho. Alegria também olhando por este lado e, pelo menos, alguma vantagem em se ter três filhos.
                Você pode pensar que é um regresso banal: cafezinho na chegada, meia dúzia de abraços de bom retorno, olhares e comentários sobre a sua barriga que diminuiu (mas não sumiu!) e o seu corpo que “parece” ter voltado ao normal. Perguntas sobre o bebê, com quem ficou etc e tal. Ponto. Volta tudo ao normal: trabalho. Se fosse num ambiente profissional em que só adultos convivem, sim, seria ponto final e trabalho.
                Mas sabe, eu trabalho com crianças. Isso mesmo, deixo três filhos para conviver intensamente com outros vinte seres humanos pequenos e tão admiráveis. Tem gente que acha que é loucura, “nasceu com o dom” ou qualquer coisa do tipo. Porém, hoje vou contar algumas das inúmeras vantagens de se trabalhar com as crianças.
                Elas são assim, em primeiro lugar: honestas. Tão diferentes de grupos de trabalho feminino, onde as mulheres elogiam sempre sua roupa, mas no banheiro tiram o maior sarro da combinação de estampas que você fez. Com as crianças não é assim: dizem na cara se está bonito ou se está feio. E quando gostam de você, te acham linda até com a mais brega combinação. Comentam sobre seu corte de cabelo, os fios brancos, as pintas inusitadas no seu rosto! Reparam, perguntam e olham admiradas para cada detalhe seu.
                As crianças correm ao seu encontro e te abraçam com força que até dói. Gratuitamente! Só porque te querem bem. É abraço sincero, carinhoso, suado às vezes. Abraço que te recupera de toda e qualquer chateação.
                Elas te olham nos olhos, dizem que realmente sentiram saudades e passam horas falando sobre suas vidas, suas histórias e travessuras. Adoram falar de tragédia, de tombo, machucados e derivados. Querem a nossa total atenção a todo momento. Elas têm a enorme capacidade de contarem suas histórias ao mesmo tempo, falam juntas e você desenvolve a habilidade de ouvir três ou quatro histórias de uma só vez.
Esses pequenos te desenham com todos os exageros reais que você tem e te entregam de presente para que nunca os esqueça. Eles brigam para sentar do seu lado, para pegar na sua mão... e escrevem cartinhas e poemas para lhe roubarem lágrimas de tanta emoção.
Fazem fila para abraço, beijam seu rosto e o deixam molhado, querem que você corra, brinque e tenha fôlego para acompanhar suas brincadeiras. Nos chamam de mãe, de vó, pai e até do nome da empregada.
A única desvantagem é que essas crianças crescem e deixam de lado a simplicidade e a honestidade daquele tempo em que diziam, por desenhos ou por olhares, que gostavam de verdade de você.
                Trabalhar com crianças é assim: intenso e verdadeiro. Energia que esgota e revigora!
 

Algumas frases preciosas que já ouvi das crianças:

“Nossa Lívia, sua pele parece uma galinha depenada!”
“Olha, quanto cabelo branco! Posso contar?”
“Lívia seu cabelo está bonito, ficou igualzinho da minha vó”
“Quando você era nossa professora da 1ª série (três anos atrás) você usava essa calça”
“Você só tem esse sapato?”
“Sora, vai lá na minha casa tomar um café e contar uma história?”
“Sora, você veio da Bahia? Você fala que nem baiano!”
"O que é isso dentro do seu olho?"
 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

TANTO SOFRIMENTO POR ALGUNS “mls”! ESSA É A VIDA DE MÃE...


Parece simples, mas não é. Você arruma seu prato de comida, escolhe os alimentos que agradam seu paladar, que sente prazer em comê-los e com um garfo e uma faca se delicia. Dessa forma você coloca combustível no seu corpo e sente um dos maiores prazeres humano: comer. Só que nem passa pela sua cabeça como tudo isso começou: sua mãe com você no colo, o cheiro do leite, a sucção, o quentinho, acalento, amor incondicional de mãe.

                É assim que começa seu maior prazer e a fonte vital da sua vida. Tudo isso dependeu da disponibilidade, da determinação, do prazer e da dor da sua mãe. Mesmo se ela um dia teve que abrir mão do aleitamento materno para lhe dar uma mamadeira.  Pode ter certeza, também não foi tão simples assim.

                Talvez você pense como os pediatras: “deixe sua filha com fome que ela pegará a mamadeira”, tudo bem! Então eu a deixarei com fome e levarei ao seu consultório para VOCÊ tentar dar a mamadeira para ela. Aí sim, saberá do que estou falando. Eu sei que ela não morrerá de fome, que não morrerá de chorar, que não morrerá por causa de uma mamadeira, só que no meio desse acontecimento não tem como não sofrer.

                Estamos no nosso terceiro dia tentando introduzir uma única mamadeira na manhã da Helena, pois volto ao trabalho daqui três dias. Minha filha tem uma crise nervosa só de colocar o bico na sua boca! Ela não aceitou a chupeta e detesta o cheiro, a textura e tudo o que acompanha o gélido plástico da mamadeira. Enquanto ela chora no colo da pessoa iluminada que me ajudará a cuidar da Helena, eu choro no banheiro pedindo uma luz divina, uma providência dos seres que nos protegem e nos guiam desse lugar desconhecido, mas que podemos sentir.

                Já se passaram mais de 30 minutos, o choro resiste e eu me desmancho por dentro... “Onde estão os anjos? Nos deixaram aqui desamparadas? Precisamos de ajuda!”, e uma voz dura me chacoalha e sopra em meu rosto uma sincera mensagem: “Estamos cuidando das mães que sofrem porque perderam seus filhos, que estão sentadas num hospital esperando um horário para ver suas crianças doentes ou que acabaram de parir e não puderam levar a coisa mais preciosas de suas vidas para casa, para o quartinho que arrumaram com tanto carinho. Estamos com elas, Lívia! Sua filha é perfeita e está com você. Com certeza tirará tudo isso de letra! Força, ergue a tua cabeça, pare de olhar para esse seu umbigo e pense na dor maior de outras tantas mães.”

                Obrigada anjo, agora posso ouvir o silêncio da minha alma e da minha casa. Helena se acalmou e conseguiu sugar alguns “mls” da mamadeira.

                Fui tomada pela força de todas as mães que, neste exato momento, choram e suplicam pela vida de seus filhos. Rezei por elas. Parei de chorar por mim e passei a sentir a fortaleza que move essas mulheres guerreiras. Sou mesmo uma minhoca desmilinguida perto delas...

                Há uma voz dentro da gente que nos direciona para o caminho que precisamos ir. Só que o barulho dos pensamentos errados, o burbúrio do ego e do individualismo nos ensurdece. Acabamos fazendo tudo errado, desvirtuamos do caminho e pegamos o atalho para o sofrimento desnecessário.

                Ser mãe de um, dois, três ou mais filhos é se deparar com a complexidade da vida e com os sentimentos que só a vida pode gerar. Nada é previsível com os filhos! Ninguém tira de letra só porque é a terceira vez. E se há alguma voz dentro de você que possa te ajudar (ou te dar uma bronca) num momento complicado, dentro desse teatro efêmero da maternidade, pare, sinta, escute o silêncio em você. Agradeça a vida que lhe foi confiada e siga em frente, sentindo a fortaleza de todas as mulheres-mães do mundo!

               

terça-feira, 9 de abril de 2013

UÉ, MEU CORPO EMBURRECEU?!!

               Ah... o nosso corpo! Casa própria gratuita, a primeira morada dos meus filhos, lar das coisas que são só minhas. Meu meio de transporte, meu descanso, diversão, antro da dor e da emoção. Meu corpo! Foi emprestado três vezes para alojar as maiores riquezas da minha vida. E quando essa consignação é feita, estragos, deteriorizações e prejuízos também acabam fazendo parte do pacote. A cada gestação, uma proporção maior! O tempo e a idade colaboram para que a situação fique ainda mais complicada.

                Prestes a completar meu trigésimo primeiro aniversário, paro para pensar sobre o meu corpo. Decidi pensar usando pernas, braços, cintura, joelhos... e não só exercitar a cabeça. Foi uma surpresa enorme o que constatei.
                Quando criança sempre gostei de dançar. Nunca fui boa para os esportes, então passava horas com a sonata vermelha tocando os hits do momento, montando coreografias para serem apresentadas na garagem de casa. Fiz um tempinho de balé só que não foi pra frente (essas coisas não vão para frente em Monte Mor, minha cidade natal). Aí eu fiz um ano de jazz. Amava dançar, imitar a Xuxa, a Angélica, Mara Maravilha! Tudo bem que eu não era um “Carlinhos de Jesus”, mas eu dançava, ou seja, conseguia controlar os movimentos de braços e pernas no ritmo de uma música.
                Só que o tempo passa, o corpo vai ficando de lado, na cabeça só entram conteúdos escolares, preocupações com a vida profissional, será que vou casar, o que vai ser de mim. Foram anos de um corpo a serviço de uma vida parada e cerebral.

                Com a chegada dos filhos esse corpo foi tomando outra forma: sobra aqui para sentar, dói ali para abaixar, cansa lá para correr atrás e fica sem fôlego acolá para pular. Dá desgosto mexer no guarda roupa e ver aquela calça não passar das coxas... e pensar que eu a usava no ano passado! Não, não, não! É hora de dar um basta e pegar essa calça como meta de superação, colocá-la dependurada na parede do banheiro e experimentá-la todos os dias até entrar.
                Então, vamos alimentar direito esse corpo e “botar” pra mexer, chega de ficar chocando ovos! Decidi ir para a academia e usar os vinte dias de licença que restavam para entrar na calça jeans que está dependurada no banheiro.
                Fechar a boca é mais fácil, quero dizer, fechá-la para os bolos da padaria que fica atrás de casa, parar de comer chocolate, não abrir mais as latas de leite condensado etc. Abrir a boca para comer na hora certa a coisa certa. Tudo isso estou tirando de letra, mas...
                Cheguei na academia, alegria! Quer saber onde? Clique aqui! Só tem mulheres. Mulheres como eu, que querem dar uma qualidade de vida para o corpo, que também devem estar ansiosas para entrar numa calça jeans e que chegaram ao limite da insatisfação com tudo que sobra (agora sem sentar). Assim fica mais fácil e menos dolorido. Duro é chegar num lugar com um monte de poposudas durinhas, que carregam 100kg nos aparelhos.
                E vamos dançar! Oba, isso eu sei fazer, pelo menos. Tá, dois para a direita um para a esquerda. Legal! Olha como eu sei dançar. Agora coloca os braços pra cima, bate palma e dá um giro. Ops, peraí. Como? Caramba, não vai! Tenta outra vez! Dois, três, braço, roda, pula... Ah! Deu um nó!
                Que decepção... meu corpo emburreceu! Não consigo conciliar perna, braço, giro, ritmo... O que aconteceu? Não é como andar de bicicleta, que a gente nunca esquece? Parece que não. É uma coisa que a cabeça não consegue mandar, ou melhor, ela manda só que o corpo não faz. Simplesmente se enrosca, faz outra coisa e não obedece a vontade do meu pensamento. Acho que meu corpo se rebelou contra mim! “Quem mandou, me deixou largado às traças, parado, você nunca mais dançou!”.
 
                É...eu deixei de dançar. Mas não só deixei de dançar como parei de cantar, de tocar violão, de andar de bicicleta, de correr, de esconder, de rodar bambolê, pular corda. Meu corpo gostava de fazer essas coisas e me deixou na mão quando precisei dele outra vez. Por pouco tempo! Espere! Vou mostrar para ele que ainda somos parceiros, que fazemos parte de uma única pessoa, que sou ele e que ele “me é”! (Licença poética! Obrigada!).

terça-feira, 2 de abril de 2013

É O COMEÇO DO FIM: LICENÇA MATERNIDADE

                Quem nunca sofreu de saudades com uma separação? O término de um relacionamento, uma viagem, mudança de escola, de cidade, a morte de um ente querido... Ficar fisicamente longe das pessoas que amamos dói e não tem analgésico que faça essa dor passar. Talvez porque esse sentimento se instale num lugar estranho e desconhecido, e farmacêutico nenhum descobriu o medicamento adequado para a dor da saudade.
                É dessa saudade doída que as mães sofrem quando termina a licença maternidade. Quando termina, não! Antes mesmo de nossos filhos nascerem já sofremos antecipadamente. Da mesma forma que planejamos ansiosas e felizes por nosso primeiro encontro, também prevemos tristemente (ou até desesperadamente!) o dia da nossa primeira separação.
                Eles passam nove meses dentro do nosso corpo, depois nascem e continuam a passar os quatro meses de licença em intenso contato corporal: mamando, agarradinhos em nosso colo, trocamos a fralda, controlamos tudo o que entra e sai do pequeno corpinho.
                O período de licença é muito intenso para as mulheres-mães, pois vivemos uma tempestade hormonal, emocional, corporal, braçal, racional e tantos outros “AL” que nos atormentam nessa fase.
                Primeiro nos recuperamos das dores: do parto, do bico do seio rachado, das visitas inesperadas e desapressadas, da insônia forçada, da alimentação regrada. Depois iniciamos o longo e difícil processo de conhecer o bebê, de desvendar seu choro, seu gosto, seu jeito... de julgar “Se parece comigo ou com você?”, as coisas boas puxou da mãe, claro. O que é ruim, óbvio, “Olha, como faz igualzinho ao pai?!”. Passamos horas procurando semelhanças, observando os detalhes da mãozinha, pé, olhos, narizinho, até das genitálias! Estou mentindo? Eu fiquei impressionada quando tive que cuidar do primeiro pipi da minha vida! Meu filho era uma extensão do meu corpo e tinha pipi! Foi difícil acostumar... como limpar, como arrumar na fralda, (coloca pra cima ou coloca pra baixo?!). Quando veio a menina, eu continuei a admirar e observar: “Meu Deus, eu tenho uma menina!”. Aí eu também não sabia como limpar! Estava acostumada com a outra coisa...


 A terceira etapa da licença muda de cara: começamos a ficar inquietas! Queremos sair, passear com o bebê, ir ao banco, supermercado... só que quando chegamos lá, nos arrependemos. Vento, frio, cocô no meio da saída, uma mamada inesperada em público. “Não vou sair mais”. Só que não adianta, o faniquito é tão grande que dói ficar em casa. A rotina vai nos corroendo, a nossa identidade fica escondida e já não sabemos mais o que éramos antes de ser mãe. Precisamos da um grito de liberdade! Aí, inventamos de sair e deixar o bebê com o marido. Encontramos as amigas e qual é o assunto? O bebê que ficou em casa! Ligações, várias ligações, uma atrás da outra “E aí? Chorou? Tá dormindo ainda? Fez cocô? Limpa direito a bundinha!”. Recomendações e saudades! Voltamos para casa mais cedo.
                Depois encasquetamos em perder peso, recuperar o corpo, voltar a entrar naquela calça jeans mais justinha, comer menos, exercitar. Só que tem dias em que a criança decide ficar acordada e chorando. Você persiste: coloca roupa de ginástica, põe o bebê no carrinho, sai pra rua fazer uma caminhada. Acontece que tem dias... chorando! A criatura no carrinho urrando de chorar, você com aquela roupinha querendo caminhar, as pessoas te olhando naquela situação, andando aflita com seu filho chorando. Meia volta e regressa para casa! O negócio é exercitar com a vassoura, paninho com rodo, chacoalhar o bebê no colo e outras coisas mais.
                E pensar que tem gente que acha que mulher de licença maternidade está de folga. Pois é, folga sem dormir, sem comer, sem tomar banho direito, sem poder ver um filme inteiro, sem beber uma cervejinha, sem sair de casa, sem falar de outro assunto que não seja filhos, sem sem sem cem mil trabalhos que fazemos enquanto estamos de licença. Com licença, vai!
                Quando o começo do fim chega a gente se sente assim: angustiada, nervosa, dividida... Com quem deixar? Escola? Alguém em casa? Minha mãe? Não sei. Ninguém cuidará dela como eu. Ninguém conhece ela como eu. Ela precisa muito de mim e eu? Eu preciso dela, do cheirinho dela, da nossa rotininha estressante e tão feliz. Nós!
                Podem falar que não é pra sempre, que serão só algumas horas do dia, que é a terceira vez que passo por isso e blá blá blá. Para o coração de uma mãe esse momento sempre será igual. Dolorido no corpo e na alma. Tudo bem, eu sei que passa. Não estou aqui vivinha da silva? Só que agora dói. Já estou sentindo saudades!
                E olha que é só o começo do fim.

segunda-feira, 25 de março de 2013

ELE ESTÁ DE VOLTA: SR. PENICO!

            A maioria das coisas aqui em nossa casa tem uma história para contar. Elas não vieram parar aqui por mero acontecimento do acaso, e sim, estão quase sempre associadas a um episódio engraçado, trágico ou feliz.
          É o caso desse penico branco, com um formato de urso e de olhos azuis. Ele veio de lá de perto do final do mundo... você já foi para lá? Nós já fomos, e de carro. E com uma criança de um ano e seis meses junto. Onde fica? “Não me perguntes onde fica o Alegrete...”. É de lá que veio esse penico que encarou conosco uma longa viagem de volta para casa. Uma história mais ou menos assim...
 
Num lugar muito, mas muito, muito distante daqui, morava um penico branco, em forma de urso, com olhos azuis. Foi visto com muita alegria por uma avó entusiasmada em ajudar seu primeiro neto a sair das fraldas. E no último dia de estadia na tão longínqua Alegrete, fomos surpreendidos pela notícia que mais esse integrante faria companhia em nossa longa viagem de volta.
 O carro estava abarrotado de coisas (tínhamos apenas um filho, o João), porta malas lotado, banco da frente, do fundo, porta luvas... tudo ocupado. Onde iríamos colocar o tal penico? Não tinha como deixá-lo, como eu iria desapontar minha sogra com o presente? E o penico foi, praticamente, em cima da criança. Tudo bem, sem exageros, ao lado (mas quase em cima) do João.
Só que o menino era pequeno e a viagem MUITO longa. João ficava cansado do carro, da sua cadeirinha, de não ter o que fazer... então chorava (ou fazia cocô!). Parávamos de porteira em porteira dos pampas gaúchos para limpá-lo ou consolá-lo. E adivinha quem descia junto? O penico branco em forma de urso e com os olhos azuis. O negócio foi deixando de ser um objeto legal, que seria bem aproveitado pelo meu filho quando estivesse pronto para sair das fraldas... naquele momento, na atual situação, o treco virou um trambolho! Toda vez: descia a mãe, descia o pai, descia o penico e descia o menino. Limpa, troca, dá água, estica a perna. Volta o menino, guarda o penico, entra pai e sobe a mãe. Voltamos à viagem!
Foram muitas paradas: posto de gasolina, restaurante de beira de estrada, acostamento etc. Viajar de carro, com criança pequena, para bem perto de onde o mundo se acaba... não é mole não! Na volta, demos uma parada em Florianópolis: eu, meu marido, meu filho e é claro, o penico branco com forma de urso e de olhos azuis!
Já em casa, quando chegou a hora de realmente usar o penico (seis meses depois), ele estava lá: branco, lindo, em forma de urso e com os olhos bem azuis. E vocês acham que meu filho quis sentar nesse penico? Claro que não! Traumatizou! Fazia xixi e cocô pela casa inteira, menos no urso polar.
Para ajudar o João nessa difícil fase de sair das fraldas, decidi comprar um cachorro: “Marido, o João vai ajudar o filhote a fazer no lugar certo e fará o mesmo!”. Sabe o que meu filho fez: ofereceu seu penico branco para o cachorro usar!!!!! E ele continuou fazendo suas necessidades pelo chão da casa (o cachorro idem!). Quase enlouquecemos, mas sabe, essas situações difíceis passam de um jeito que não deixam rastros... não me lembro de quanto tempo ficamos enlouquecidos limpando xixi e cocô de criança e de cachorro! Passou realmente. O problema é que corro o risco de fazer tudo outra vez...
É que ele está de volta! O penico branco, em forma de urso e de olhos azuis voltou para nossa casa. Agora é a vez do filho do meio usá-lo (ou não). Ontem foi a apresentação oficial e sabe no que deu? Em nada...
O Lucas achou que fosse um banquinho novo e sentou sem problemas. Mas quando a tia/madrinha disse que ali ele faria cocô e xixi, meu filho disse “Éca!”, fechou a tampa e saiu para longe do penico. Cocô e xixi não combinam com ele, tão branco, tão bonito. As crianças sabem disso, por isso não o usam. Ou melhor, o penico hoje foi para o banho! Parece que está se tornando mais um membro da nossa grande família!

quarta-feira, 20 de março de 2013

SOU MÃE DE MENINA!

               Foi um susto enorme! Era domingo a tarde e compramos aquele teste para tirar o peso do pensamento. Depois do xixi, pedi para meu filho mais velho olhar se havia apenas um risquinho. “Mãe, tem dois. Olha direito menino, não é brincadeira! Quantos riscos tem aí? Mãe, tem dois eu já falei!”. Parecia um pesadelo... eu vi com meus próprios olhos: dois risquinhos vermelhos. Vi também meu marido jogado na cama dizendo “Meu Deus, o que vamos fazer?”. Vi meu bebezinho engatinhando pela sala sem entender a dimensão daquele momento para a sua vidinha de apenas onze meses. Vi a casa pequena, o carro que não caberia três cadeiras, meu corpo, um barrigão, mais um parto... Vi o João colocando a mão na minha barriga e dizendo “Oba! Oi bebezinho!” Nãooooo, não faça isso! Era um pesadelo. 
 
                Eu carregava a culpa de não esperar, de não estar preparada, de ficar triste, de não querer contar pra ninguém... eu carregava a culpa de não estar feliz. Como? Era um filho e não uma doença mortal! Meu lado sensato dizia isso a toda hora. Só que sou gente, gente confusa, cheia de ambiguidades, gente de carne e osso. Demorei dias para fazer o exame de sangue, com alguma esperança de ser mesmo só um pesadelo, que tudo aquilo passaria. Mas, ainda bem, não era! Eu estava grávida novamente. Outro filho? Uma menina? Não, eu não imaginava a casa com outra mulher. 
 
                Demoramos para saber o que viria. Só sabíamos que viria mesmo! Na minha cabeça de mãe de dois meninos, cogitava apenas a ideia de mais um garotinho e todas as facilidades que isso geraria. Quarto azul, pronto! Roupas, checado! Carrinho e cadeirinha, OK também! Seria mais fácil encarar a gestação inesperada com a certeza de que teria tudo pronto para o bebê. Já imaginava o quarto dos meninos com três camas, uma triliche, meias e roupas jogadas, bola pela casa, bicicletas, puns e arrotos por todo lado. E eu, imperando em meio a tanta testosterona.
 
                Antes de engravidar pela terceira vez, achava que contaria com a sorte grande de ter noras maravilhosas. Elas que cuidariam de mim na velhice, ficariam no quarto do hospital, ganhariam as minhas “quase nada” relíquias femininas de família. Já havia me acostumado com essa ideia e iniciado a torcida (e escolha) de possíveis pretendentes para os meus meninos. Reviravolta de pensamentos... 
 
                Fomos fazer o exame, a ultrassonografia morfológica, e a família toda dentro daquela minúscula sala gelada da clínica. Os meninos corriam em volta da maca, gritavam, riam e se divertiam. Meu marido olhava para a tela procurando indícios do sexo do bebê e nem via a bagunça daquelas crianças. “Olha o pé! João e Lucas venham ver! Será que é um pé de jogador de futebol ou de uma bailarina?”. “Mãe, eu quero uma menina!”, “João, você precisa ficar feliz com o que vier, meu filho”. “Bom, teremos uma bailarina! É uma menina!”, disse a médica. Não tive como controlar as lágrimas! Eu, mãe de uma menina! 
 
                Ao final do exame, meu filho mais velho disse: “Tá vendo mãe, os anjinhos me escutam. Quando eu pedi um menino, veio o Lucas e agora eu pedi uma menina. Ela veio!”. Doces anjinhos que atendem as preces do João...
 
                A vida é misteriosa e imprevisível. “Só terei dois filhos”, não você será mãe de três. “Tá, mas só serão meninos”, não! Você terá uma menina. 
 
                Seria Helena. Não tivemos dúvida quanto ao nome. Mesmo com a minha avó dizendo que era um nome muito forte e de grande responsabilidade... achamos que nossa filha teria uma vida suficientemente importante para dar conta de se chamar HELENA. 
 
                Só que meus planos quanto às roupas, quarto, casa, carro... tudo foi por água abaixo. Ganhamos as primeiras roupinhas vermelhas de bolinhas. Parecia mentira! Teríamos uma menina em casa. Coisas de menina são lindas: rosinhas, lilás, sapatos de diversos modelos e cores, laçarotes, bolinhas, florzinhas e tudo mais que tiver “inhas” que você imaginar. Sabe, quando estava nas lojas comprando roupas para os meninos, pensava no tamanho da injustiça: o departamento masculino para crianças é mínimo, não tem quase nada de opção. Já o das meninas... uma loucura, roupa de tudo que é jeito! E lá estava eu, diante da amplitude feminina de consumo! 
 
                Helena nasceu no dia em que algumas pessoas acreditavam que o mundo acabaria. Seu parto marcou o fechamento de uma fábrica maternal e tudo correu bem, de uma forma especialmente tranquila e feliz. Era o parto de uma menina, que nasceu chorando pouco, mas muito forte e decidida: “Mãe, vamos nessa que eu tô com você!”. Eu sentia que estava cercada pela energia de muita garra, de todas as mulheres de outras gerações da minha família. Principalmente da minha avó paterna que foi a mensageira desse momento tão importante das nossas vidas.
 
               Engraçado, as pessoas me diziam, antes de saber o sexo do bebê: “Ai, você merece uma menininha igualzinha a você!”. Merecer? Bem, então eu mereci mesmo, só que outra vez, veio igual ao pai, ou melhor, uma versão feminina dos meus meninos! 
 
                Minha filha menina me olhou pela primeira vez nos olhos e compartilhou as delícias e sofrimentos da vida de uma mulher. Firmamos nossa parceria de sensibilidade e fortaleza, de dores e alegrias.  Estaremos juntas, para todo sempre, compactuando sentimentos femininos que só nós saberemos. E o mais importante: sem depender de noras!
Nosso primeiro encontro, de uma longa vida juntas!