segunda-feira, 25 de março de 2013

ELE ESTÁ DE VOLTA: SR. PENICO!

            A maioria das coisas aqui em nossa casa tem uma história para contar. Elas não vieram parar aqui por mero acontecimento do acaso, e sim, estão quase sempre associadas a um episódio engraçado, trágico ou feliz.
          É o caso desse penico branco, com um formato de urso e de olhos azuis. Ele veio de lá de perto do final do mundo... você já foi para lá? Nós já fomos, e de carro. E com uma criança de um ano e seis meses junto. Onde fica? “Não me perguntes onde fica o Alegrete...”. É de lá que veio esse penico que encarou conosco uma longa viagem de volta para casa. Uma história mais ou menos assim...
 
Num lugar muito, mas muito, muito distante daqui, morava um penico branco, em forma de urso, com olhos azuis. Foi visto com muita alegria por uma avó entusiasmada em ajudar seu primeiro neto a sair das fraldas. E no último dia de estadia na tão longínqua Alegrete, fomos surpreendidos pela notícia que mais esse integrante faria companhia em nossa longa viagem de volta.
 O carro estava abarrotado de coisas (tínhamos apenas um filho, o João), porta malas lotado, banco da frente, do fundo, porta luvas... tudo ocupado. Onde iríamos colocar o tal penico? Não tinha como deixá-lo, como eu iria desapontar minha sogra com o presente? E o penico foi, praticamente, em cima da criança. Tudo bem, sem exageros, ao lado (mas quase em cima) do João.
Só que o menino era pequeno e a viagem MUITO longa. João ficava cansado do carro, da sua cadeirinha, de não ter o que fazer... então chorava (ou fazia cocô!). Parávamos de porteira em porteira dos pampas gaúchos para limpá-lo ou consolá-lo. E adivinha quem descia junto? O penico branco em forma de urso e com os olhos azuis. O negócio foi deixando de ser um objeto legal, que seria bem aproveitado pelo meu filho quando estivesse pronto para sair das fraldas... naquele momento, na atual situação, o treco virou um trambolho! Toda vez: descia a mãe, descia o pai, descia o penico e descia o menino. Limpa, troca, dá água, estica a perna. Volta o menino, guarda o penico, entra pai e sobe a mãe. Voltamos à viagem!
Foram muitas paradas: posto de gasolina, restaurante de beira de estrada, acostamento etc. Viajar de carro, com criança pequena, para bem perto de onde o mundo se acaba... não é mole não! Na volta, demos uma parada em Florianópolis: eu, meu marido, meu filho e é claro, o penico branco com forma de urso e de olhos azuis!
Já em casa, quando chegou a hora de realmente usar o penico (seis meses depois), ele estava lá: branco, lindo, em forma de urso e com os olhos bem azuis. E vocês acham que meu filho quis sentar nesse penico? Claro que não! Traumatizou! Fazia xixi e cocô pela casa inteira, menos no urso polar.
Para ajudar o João nessa difícil fase de sair das fraldas, decidi comprar um cachorro: “Marido, o João vai ajudar o filhote a fazer no lugar certo e fará o mesmo!”. Sabe o que meu filho fez: ofereceu seu penico branco para o cachorro usar!!!!! E ele continuou fazendo suas necessidades pelo chão da casa (o cachorro idem!). Quase enlouquecemos, mas sabe, essas situações difíceis passam de um jeito que não deixam rastros... não me lembro de quanto tempo ficamos enlouquecidos limpando xixi e cocô de criança e de cachorro! Passou realmente. O problema é que corro o risco de fazer tudo outra vez...
É que ele está de volta! O penico branco, em forma de urso e de olhos azuis voltou para nossa casa. Agora é a vez do filho do meio usá-lo (ou não). Ontem foi a apresentação oficial e sabe no que deu? Em nada...
O Lucas achou que fosse um banquinho novo e sentou sem problemas. Mas quando a tia/madrinha disse que ali ele faria cocô e xixi, meu filho disse “Éca!”, fechou a tampa e saiu para longe do penico. Cocô e xixi não combinam com ele, tão branco, tão bonito. As crianças sabem disso, por isso não o usam. Ou melhor, o penico hoje foi para o banho! Parece que está se tornando mais um membro da nossa grande família!

quarta-feira, 20 de março de 2013

SOU MÃE DE MENINA!

               Foi um susto enorme! Era domingo a tarde e compramos aquele teste para tirar o peso do pensamento. Depois do xixi, pedi para meu filho mais velho olhar se havia apenas um risquinho. “Mãe, tem dois. Olha direito menino, não é brincadeira! Quantos riscos tem aí? Mãe, tem dois eu já falei!”. Parecia um pesadelo... eu vi com meus próprios olhos: dois risquinhos vermelhos. Vi também meu marido jogado na cama dizendo “Meu Deus, o que vamos fazer?”. Vi meu bebezinho engatinhando pela sala sem entender a dimensão daquele momento para a sua vidinha de apenas onze meses. Vi a casa pequena, o carro que não caberia três cadeiras, meu corpo, um barrigão, mais um parto... Vi o João colocando a mão na minha barriga e dizendo “Oba! Oi bebezinho!” Nãooooo, não faça isso! Era um pesadelo. 
 
                Eu carregava a culpa de não esperar, de não estar preparada, de ficar triste, de não querer contar pra ninguém... eu carregava a culpa de não estar feliz. Como? Era um filho e não uma doença mortal! Meu lado sensato dizia isso a toda hora. Só que sou gente, gente confusa, cheia de ambiguidades, gente de carne e osso. Demorei dias para fazer o exame de sangue, com alguma esperança de ser mesmo só um pesadelo, que tudo aquilo passaria. Mas, ainda bem, não era! Eu estava grávida novamente. Outro filho? Uma menina? Não, eu não imaginava a casa com outra mulher. 
 
                Demoramos para saber o que viria. Só sabíamos que viria mesmo! Na minha cabeça de mãe de dois meninos, cogitava apenas a ideia de mais um garotinho e todas as facilidades que isso geraria. Quarto azul, pronto! Roupas, checado! Carrinho e cadeirinha, OK também! Seria mais fácil encarar a gestação inesperada com a certeza de que teria tudo pronto para o bebê. Já imaginava o quarto dos meninos com três camas, uma triliche, meias e roupas jogadas, bola pela casa, bicicletas, puns e arrotos por todo lado. E eu, imperando em meio a tanta testosterona.
 
                Antes de engravidar pela terceira vez, achava que contaria com a sorte grande de ter noras maravilhosas. Elas que cuidariam de mim na velhice, ficariam no quarto do hospital, ganhariam as minhas “quase nada” relíquias femininas de família. Já havia me acostumado com essa ideia e iniciado a torcida (e escolha) de possíveis pretendentes para os meus meninos. Reviravolta de pensamentos... 
 
                Fomos fazer o exame, a ultrassonografia morfológica, e a família toda dentro daquela minúscula sala gelada da clínica. Os meninos corriam em volta da maca, gritavam, riam e se divertiam. Meu marido olhava para a tela procurando indícios do sexo do bebê e nem via a bagunça daquelas crianças. “Olha o pé! João e Lucas venham ver! Será que é um pé de jogador de futebol ou de uma bailarina?”. “Mãe, eu quero uma menina!”, “João, você precisa ficar feliz com o que vier, meu filho”. “Bom, teremos uma bailarina! É uma menina!”, disse a médica. Não tive como controlar as lágrimas! Eu, mãe de uma menina! 
 
                Ao final do exame, meu filho mais velho disse: “Tá vendo mãe, os anjinhos me escutam. Quando eu pedi um menino, veio o Lucas e agora eu pedi uma menina. Ela veio!”. Doces anjinhos que atendem as preces do João...
 
                A vida é misteriosa e imprevisível. “Só terei dois filhos”, não você será mãe de três. “Tá, mas só serão meninos”, não! Você terá uma menina. 
 
                Seria Helena. Não tivemos dúvida quanto ao nome. Mesmo com a minha avó dizendo que era um nome muito forte e de grande responsabilidade... achamos que nossa filha teria uma vida suficientemente importante para dar conta de se chamar HELENA. 
 
                Só que meus planos quanto às roupas, quarto, casa, carro... tudo foi por água abaixo. Ganhamos as primeiras roupinhas vermelhas de bolinhas. Parecia mentira! Teríamos uma menina em casa. Coisas de menina são lindas: rosinhas, lilás, sapatos de diversos modelos e cores, laçarotes, bolinhas, florzinhas e tudo mais que tiver “inhas” que você imaginar. Sabe, quando estava nas lojas comprando roupas para os meninos, pensava no tamanho da injustiça: o departamento masculino para crianças é mínimo, não tem quase nada de opção. Já o das meninas... uma loucura, roupa de tudo que é jeito! E lá estava eu, diante da amplitude feminina de consumo! 
 
                Helena nasceu no dia em que algumas pessoas acreditavam que o mundo acabaria. Seu parto marcou o fechamento de uma fábrica maternal e tudo correu bem, de uma forma especialmente tranquila e feliz. Era o parto de uma menina, que nasceu chorando pouco, mas muito forte e decidida: “Mãe, vamos nessa que eu tô com você!”. Eu sentia que estava cercada pela energia de muita garra, de todas as mulheres de outras gerações da minha família. Principalmente da minha avó paterna que foi a mensageira desse momento tão importante das nossas vidas.
 
               Engraçado, as pessoas me diziam, antes de saber o sexo do bebê: “Ai, você merece uma menininha igualzinha a você!”. Merecer? Bem, então eu mereci mesmo, só que outra vez, veio igual ao pai, ou melhor, uma versão feminina dos meus meninos! 
 
                Minha filha menina me olhou pela primeira vez nos olhos e compartilhou as delícias e sofrimentos da vida de uma mulher. Firmamos nossa parceria de sensibilidade e fortaleza, de dores e alegrias.  Estaremos juntas, para todo sempre, compactuando sentimentos femininos que só nós saberemos. E o mais importante: sem depender de noras!
Nosso primeiro encontro, de uma longa vida juntas!
 

sábado, 16 de março de 2013

ENTRE LÁGRIMAS, MANHAS, BERREIROS E CHORORÔ

               Alguma vez já te aconteceu de parar rapidamente para observar/procurar de onde vem o choro de uma criança? Parece algo instintivo, como se tocasse uma sirene dentro da gente: ouvimos o choro, paramos, procuramos de onde vem e pensamos “por que será que está chorando?”. Aí, quando identificamos a lamúria e o individuozinho que a produz, somos tomados por um nobre sentimento de pena: “Ah, coitadinho...”. 
 
                Mas quando estamos “do outro lado do choro”, com certeza ele soa bem diferente. 
 
                Uma das coisas que a tripla maternidade me deixou craque foi decifrar essa manifestação humana, o choro. 
 
                No começo eu era péssima e, para ajudar nesse processo dolorido da minha aprendizagem, meu primeiro filho veio com uma imensa capacidade pulmonar para chorar. Já saiu da barriga urrando forte, vermelho, querendo dizer “Meu Deus, onde é que eu fui parar!”. Logo que chegamos em casa da maternidade, ele já mostrou a que veio ao mundo: para me ensinar sobre o “chorar”. Ele tinha hora marcada, cinco da tarde começava o espetáculo. Hora pra terminar? Nem sempre, por volta das oito da noite. Não havia colo, dancinha, música, mama, funchicória, chupeta, braço... que o fizesse parar. Dor? Fome? Sede? Frio? Cada um que nos visitava dava um diagnóstico. 
 
                Você já percebeu a necessidade que as pessoas têm em diagnosticar o motivo do choro do seu filho? É incrível! Nessa hora todo mundo tem um pouco de pediatria no sangue. “Com certeza é dor! Posso saber o que você anda comendo? Vai tudo para o leite. Está nervosa? Passa para o bebê. Dá chá que é bom. Paninho quente ajuda! Colite aguda, põe no berço e deixa chorar. Infalível!”. 
 
                Só que na minha insanidade de mãe de primeira viagem, sempre recorria à benzedeira! Se é verdade? Não sei. Só sei que passava quando mandava benzer! (Isso ainda funciona aqui em casa). 
 
                Havia algo assustador no berço do meu filho mais velho, pois era incrível: o menino estava largado no colo, dormindo maravilhosamente. Era colocar no berço... e o bichinho urrava de chorar. Até que um dia, em meio ao choro incessante do João e no silêncio da nossa casa, o brinquedo, que ficava dependurado no tal berço, começou a tocar sua música sozinho. Detalhe: era preciso dar corda para funcionar. Coisas do além, de certo. Queimamos o brinquedo e o João começou a dormir melhor na sua caminha. Se eu acredito? Bom, digo que não duvido! 
 
                Naquela época em que eu era mãe de um, achava que choro matava o bebê. Sério, passa isso dentro da cabeça doida do pós-parto. O menino fazia “ãh!” e eu já estava desesperada com ele no colo, balançando e dizendo “vai passar, vai passar”. Vai passar o quê? A criança estava mamada, trocada, quentinha e tudo nos trinques. 
 
                E para eu tomar banho? Levava o João no carrinho para dentro do banheiro e quando ameaçava entrar no Box, fechava a porta devagarinho... ele chorava! Eu passava sabonete correndo, enlouquecida, me enrolava na toalha (ou às vezes nem dava tempo de fazer isso) e já colocava o menino no meu colo. “Vai passar, vai passar!”. Agora sei que essa frase que eu TANTO dizia, era pra mim mesma.  
 
                Para você ter uma noção da proporção do choro do meu primeiro filho, escute essa história. Fui ao salão de beleza que eu frequentava com ele no carrinho e esse salão dividia muro com o nosso prédio. Conversando com a manicure (que não sabia onde eu morava), comecei a contar sobre o parto, o dia a dia com o bebezinho e ela me falou bem séria: “Nossa, você não sabe, tem um bebê aqui nesse prédio que chora o dia inteirinho. Um horror! Não sei onde está essa mãe que não faz nada!”. Essa mãe estava na frente dela, perplexa com a frase. “Sou eu. Esse bebê é meu!”. Que situação... ela ficou constrangida e eu, boba de tudo, fiquei dando satisfação do choro do meu filho. 
 
                Mas o tempo e a quantidade de filhos faz com que a gente mude e aprenda a lidar com esse tipo de situação. 
 
                Com o meu segundo filho Lucas, foi ainda pior. Ele saiu chorando da barriga e não parou mais, até hoje, com quase dois anos de idade! Tanto é que, ainda na maternidade, tive que pedir CHORANDO para a enfermeira ficar um pouco com ele, pois eu não aguentava mais carregar e amamentar o tempo inteiro. Não havia trégua: era manhã, tarde, noite e madrugada com o Lucas chorando. A enfermeira até me aconselhou “Manda seu marido trazer chupeta pra esse garoto!”. Meu marido levou, só que esqueceu de ferver... 
 
                O Lucas ainda não consegue falar tudo o que tem vontade de dizer. Sua boca não acompanha seu pensamentozinho! Por isso ele chora demais. Quer falar, quer pedir, que reclamar e nós não entendemos nada. Aí ele chooooooora! Sem contar que desde o dia que a caçula chegou em casa e ele ouviu o chorinho dela, decidiu mudar. Parou de chorar? Não!!! Ele começou a chorar que nem ela. Mudança de choro! Lucas passa horas chorando, sem motivo, por costume e tradição. Um dia ele estava brincando e minha mãe conversava com a bebê do lado dele. Falou e falou com ela e o Lucas só ouvindo quieto. Depois, minha mãe se virou para ele e perguntou: “E você Luquinhas, tudo bem?”. Sabe gente idosa que só reclama e choraminga? Ele fez igual, começou a chorar devagarinho, como se estivesse fazendo uma lamentação: “Nada bem, vovó! Depois que essa bebê chegou, perdi o colo!”. 
 
                Já a Heleninha... menina, terceira filha, corajosa! Saiu da barriga chorando diferente: “Tô aqui! Agora seja o que Deus quiser!”. Ela não quer chupeta, dorme tranquila no meio do barulho e adora se agarrar nos pelos do peito do papai. Ela chora, claro! Mas agora a mãe dela já sabe que bebê não morre de chorar, por isso hoje consigo tomar banho, comer tranquila, olho meus e-mails, escrevo para o Blog, dentre outras coisas que antes não fazia. 
 
                As pessoas continuam a olhar preocupadas quando me veem passar com a Helena chorando no carrinho, ou quando estou comendo sossegada e ela a se esgoelar porque quer colo, balanço, ver o mundo de pé, como todos nós. Minha irmã acha que é um desrespeito deixar um bebê chorar num lugar público! Desrespeito comigo? Com a bebê? Não! Com as pessoas querem ficar em paz, e não ouvindo o choro de uma criança. O que eu faço? Bem, a mesma coisa quando escuto o choro de manha dos meus filhos: entra por um ouvido e sai pelo outro.  

 
                E vamos passear criançada, com choro ou sem choro. A vida continua ENTRE LÁGRIMAS, MANHAS, BERREIROS E CHORORÔ!

 

terça-feira, 12 de março de 2013

O CHORO E A FRASE: “MÃE, EU NÃO CONSIGO LER!”

 O papel dos pais nessa fase que, nem sempre, é feliz.

 
                Se você tem acompanhado as histórias desse Blog, deve estar achando que meu filho mais velho só chora. Gostaria de esclarecer que não! Pelo contrário: o João quase nunca chora, quase nunca briga, quase nunca reclama, quase nunca fica bravo. Ele é um menino que costuma guardar dentro do mais profundo espaço do seu coraçãozinho de cinco anos, as coisas que o entristecem. Mas, quando decide colocar pra fora, o sentimento vem acompanhado por um enorme choro, sentido, dolorido. As lágrimas são despejadas pelos seus olhos e eu, como sua mãe, fico imensamente comovida.
                Confesso que ele anda colocando muitos sentimentos para fora ultimamente, fato que me deixa demais de satisfeita. Ainda mais nessa nova fase do 1º ano do Ensino Fundamental, com cadernos, lição de casa, lápis, borracha, atividades... e uma enorme carga de expectativas em relação à leitura e à escrita. Minhas expectativas? Do pai? Não, não acho que seja só nossa! Expectativas do próprio João!
 

                E não tem como não criar grandes expectativas, porque o mundo das palavras o rodeia por onde quer que ele vá! Nos seus livros, jogos do computador, programas de TV, nos brinquedos, nas cartinhas que coleciona, na escola, na porta da geladeira cheia de recados... O apelo para aprender a ler tem chegado bem mais cedo do que em 1989, quando eu entrei na 1ª série do antigo “Ciclo Básico”.
                Voltemos ao choro e a frase. João estava deitado no sofá com seus livros do Clube Penguin – aquele clube virtual do Puffel, da história do primeiro luto de uma criança – e percebi que estava recontando os quadrinhos com as frases que lembrava. Perguntei: “Filho, por que você não tenta ler o que está escrito nos balões?”. Santo de casa não faz milagre ou em casa de ferreiro o espeto é de pau. Eu tinha que falar isso? Não! Na cabeça tranquila que o João tem, com certeza estava pensando: eu estou lendo do jeito que sei e estou feliz e satisfeito assim!
                E a mãe continuou: “Olha esse balão, é fácil, vamos lá. Que letra é essa? Com mais essa?”. O pobre filho que adora agradar a mãe (e todas as outras pessoas do mundo) tentou juntar as letras, procurava o som na sua memória e se esforçou. Só que ele já sabia o texto, então, dizia a frase que estava na sua memória. A mãe insistia: “Ah, vamos tentar!”.
                A insistência burra da senhora mãe só poderia acabar em choro. “Ahhhhh! Eu não consigo ler! Sempre que eu tento acabo falando a palavra errada, que não existe. Eu não consigo leeeeerrrr!”. Lágrimas e mais lágrimas! Tá vendo Lívia, pra quê fazer o menino chorar?! Se meu avô estivesse vivo com certeza me diria isso... “Mãe, eu pego livro na biblioteca e não consigo ler. Quando eu vou tentar ler, faço tudo errado!”. Bem, chegou a hora de reparar meu erro.
 

                Deixei que colocasse pra fora todo aquele sofrimento entalado na garganta, coloquei a bebê no carrinho para poder pegá-lo no colo e enchê-lo de carinho. Disse para o meu filho que outras tantas crianças também estão na mesma situação, aprendendo a ler. Ninguém nasce com esse mérito (ainda)... Ele pensa que não sabe e, talvez/com certeza eu o tenha feito se sentir assim. Mas o João já conhece muita coisa sobre as palavras, como lê-las e escrevê-las. Vou mostrar como!
                Fomos para o computador. Eu queria espiar meus e-mails e surgiu a ideia: “Vou escrever umas coisas e você precisa descobrir o que é. São objetos daqui da salinha de estudos”. João ficou animado. Escrevi LIVRO. Ele não olhava para a tela e sim, para a salinha e chutava um monte de coisas: CD, telefone, DVD... “Filho, tenta olhar para a palavra e veja se ela te ajuda a descobrir!”. Olho na tela, olho na sala e chutes e mais chutes. “João, olha pra letra que começa, não te lembra o nome de alguém?”. “LI LI LI”, olho na sala... “Livro!”. Muito bem, ponto na palavra livro.

 
                Nas três primeiras palavras ele se deteve em apenas adivinhar o objeto olhando para as coisas da salinha de estudos. Eu insisti que olhasse para a tela do computador e tentasse buscar algumas pistas nas palavras. MESA. “Olha pra palavra!”, eu já estava perdendo a paciência e a bebezinha também, até começou a chorar. “M... E... Me. Sssss A. Messssa?!?” Dúvida... “Mãe, mesa! Mas isso não é mesa mãe, isso é escrivaninha!”
                Quando leu a palavra MESA, o João se apoiou nas letras e aos sons que ele sabe. Repetiu a palavra que ficou estranha, pois o S para ele não tem som de Z; mas sabia que esse objeto estava na salinha (contexto da nossa brincadeira), e acertou. Ganhou outro ponto! Com a palavra TESOURA foi a mesma coisa: com os olhos mais voltados para as palavras do que para os objetos da sala, ele leu: “T... TE... SSO...U.... RRa tessourra? O que é isso? Tessourra... tesoura, mãe!” Muito bem!!! O choro havia ficado para trás e o sucesso dos pontos era motivo da sua alegria e empolgação.
 

                “Sua vez, João! Vou dar mama e você escreve para eu tentar descobrir!”. “Ah mãe, não tem graça... Você já sabe ler!”. Mas eu já disse que meu filho mais velho gosta de agradar as pessoas, então ele fez uma lista de nomes... ou melhor, mais ou menos uma lista de nomes!
OVO, ASTIAGO, JOÃO VITOR, NEMO, MAFI
 

                Ele tentou garantir seu sucesso, lógico! Escreveu primeiro uma palavra que já conhece muito bem, ganhei um ponto. Depois o nome do amigo Santiago, o próprio nome, o nome do livro que ele trouxe da biblioteca e, na última palavra, fiquei confusa. E agora? Se eu acertar, não teve graça nenhuma a brincadeira, e se e u errar, iria parecer que ele não soube escrever certo. E aí? Só que eu não sabia! Mafi??? Mafi... mafi... E me veio na cabeça Muffin, muffin de chocolate? “Isso mãe, acertou! Eu vi essa comida no desenho da Pink dinque doo!”.
                Eu nem sei direito o que é isso, quanto mais, como se escreve. Só que o João se arriscou! Aprender a ler e escrever é se arriscar. É preciso arriscar, errar, ajustar, tentar outra vez.
 

    E o mundo? Ah, esse mundo... está pequeno demais para as nossas crianças. Ouvi-los dizer “te amo do tamanho do mundo” já significa que o amor não é mais tão grande assim.

 

sábado, 9 de março de 2013

PAPAI NOEL? COELHINHO DA PÁSCOA? NÃO, O PROBLEMA AGORA É A FADA DO DENTE!

Como se já não bastasse as histórias do bom velhinho, as armadilhas e ninhos para o senhor coelho, agora tem mais essa, a tal da Fada dos dentes. Na minha infância os dentes caíam e iam para o telhado. Não vinha fada alguma me trazer dinheiro! Está certo, a frase sempre se repete: o que não fazemos pelos filhos? Serei eu a mãe destruidora de sonhos e do imaginário do João? Claro que não! Então, vamos lá alimentar mais uma história que, pra variar, tem dinheiro (e consumo!) envolvido na trama.
 
O meu filho mais velho já está com cinco anos e completa seis logo logo. Por esse motivo, sua dentição provisória vai dando adeus à sua boquinha. É dessa forma que o tempo vai passando para as mães. Vai passando de um jeito avassalador levando dentes, tênis novos, roupas, mudando o tamanho da fralda, os nomes dos heróis favoritos, as brincadeiras e tantas outras coisas. O tempo, para as mães, passa dolorido e materializado em medidas, aniversários, peso, objetos e cabelos brancos... muitos cabelos brancos. Ou, perda de cabelo, no caso do pai.
Já é o segundo dente dele que cai e nós ainda não aprendemos com a lição do primeiro. Porque o dente fica mole e não tem dia e hora marcada para cair. Ele cai quando quer ou quando alguma professora corajosa da escola encasqueta de tirar. Aí entra o problema: a grana. Hoje em dia ninguém tem dinheiro vivo na carteira, usamos o cartão para tudo! E quando o dente decide cair: não tem nenhum trocado! Por isso, quando o primeiro dente decidiu ir embora, tínhamos apenas uma nota de dois reais em casa e teve que ser essa quantia. “Fada do dente mão-de-vaca!”, deve ter pensado meu filho quando acordou e viu aquela merreca.
Pense comigo: fada do dente deveria trazer um “vale dentista” pra uma limpeza, ou um plano odontológico, uma escova nova, sei lá, algo que incentivasse as crianças a cuidarem dos seus dentes. Sabe o que meu filho pensa em comprar com a grana? Lanche do Macdonald’s. E outras crianças também devem gastar seus trocadinhos com guloseimas.
Para o segundo dente, o João criou uma grande expectativa e me disse: “Mãe, se eu ganhei só dois reais no primeiro, com certeza vou ganhar mais no segundo dente, não é?”. Eu respondi que não conhecia a logística de entrega da fada e que ele deveria esperar uma menor quantidade também. Com certeza o João esperava muito dinheiro!
Na manhã seguinte, logo após essa nossa conversa, o dente caiu. João estava se escovando quando ele decidiu sair. Meu filho fez a maior festa e você sabe, é claro, que a alegria não é pelo dente que vai nascer e sim, pelo dinheiro que a fada trará. Tudo errado hoje em dia! E eu não sei o porquê que dou continuidade a esses erros... pelos filhos, lógico.
João foi para a escola reluzente, de janela escancarada para que todos já pudessem imaginar o quanto traria de dindin a rica fada dos dentes. Eu já fui me preparando, separei o troco do estacionamento para a fatídica noite, para receber a ilustre visita. Só que meu marido precisou de uma quantia desse dinheiro e levou tudo, mas eu esperava ansiosa pelo troco. Voltaria uns cinco reais e o João ficaria muito satisfeito.
Quando meu marido voltou, o sol já havia pedido licença para descansar e a noite chegava de mansinho. Primeira coisa que eu quis saber, “Cadê o troco?”. “Que troco?”. “Como que troco? Do dinheiro que você pegou. Tem visita da fada hoje aqui em casa, esqueceu?” Claro que ele havia esquecido, na cabeça de um pai que trabalha enlouquecido o dia todo, não caberia um grave problema de dentes e de fadas. “Eu comprei uma truffa e uma água.” Acabou com a minha noite e com a manhã, consequentemente. Não tínhamos nenhuma nota, apenas um talão de cheque, mas acho que cheque, fada e João... não, com certeza não adiantaria. “Vai lá e diga alguma coisa para o menino”. Ele já estava na cama, com a caixinha do dente embaixo do travesseiro e nem era ainda a hora de dormir. “Filho, pode ser que a fada não venha. Pode ser que ela demore alguns dias para levar seu dentinho. Dois dias, por exemplo.”
Mas a fada não atrasa na casa dos amigos e não faltaria justo na sua vez. João foi dormir com esses pensamentos...
Madrugada do outro dia.
Quando amamentamos nós não dormimos e nem acordamos, ficamos em stand by. Eu estava assim às cinco da manhã depois que dei o mama para a bebê. Estava escuro e eu ouvi a descarga, tinha certeza que era o João se preparando para abrir a caixinha e encontrar seu tesouro deixado pela fada. Cutuquei o marido. “Acorda, vai lá com o João. Fica do lado dele neste momento.” Fecho os olhos, apago. Abro os olhos correndo e escuto um grito de choro: Buááááá! Chamo meu marido. “Eu já estou aqui, Lívia”. O João chorava incessantemente, decepcionado, sem dinheiro e com o dentinho ainda dentro da caixa. O meu marido contou aquela bobagem outra vez que ela demora dois dias e blá blá blá para os ouvidinhos do meu pequeno filho.
Esse era um caso para uma mãe e contei a seguinte história: “Filho, a fada veio sim! Eu estava acordada dando mama pra Helena e ela me viu. Disse que essa foi a última casa que passou e quando se deu conta, havia acabado o dinheiro dela. Muitos dentes andam caindo, não é mesmo? Só na sua turma são tantas crianças... E você nem sabe, sua irmã danada, disse pra fada que também queria dinheiro, que estava banguela, sem nenhum dente na boca e que merecia bastante dindin”. João riu nessa parte. “Ela volta, meu amor. Irá levar o seu dente e deixará seu dinheiro.” O choro passou, mas a decepção e a tristeza ainda eram grandes.
Primeira coisa que fiz, depois de deixá-lo na escola, foi tirar o dinheiro. Lá estava a nota de dez reais na caixinha quando João voltou para casa. “Mãe, dez reais! Eu falei que seria mais do que o primeiro! Só que meu amigo ganhou vinte, e era o primeiro dente dele que caiu!”. Respondi: “Está vendo porque ficou sem dindin pra você? Essa fada deixou tudo na casa do seu amigo!”. João passou ainda algumas horas segurando sua caixinha com seu dinheirinho, muito feliz e satisfeito.
Esse meu filho mais velho me ensina tanta coisa! A sua bondade, o seu “se contentar” com pouco, sua sensibilidade e gratidão. O João é uma criança especial que apareceu na minha vida para mostrar que o mundo pode ser menos complicado.
João com a janela aberta!
 

quarta-feira, 6 de março de 2013

Cheiro de leite

O leite é um alimento essencial, claro, somos mamíferos! Nos primeiros momentos de nossas vidas aperfeiçoamos o movimento da sucção para poder ingerir o tão sagrado alimento. Com o leite também podemos fazer coisas deliciosas como: queijo, yougurte, chocolate, manjar, mingau, leite condensado, molho branco, manteiga... Ai! Uma lista grande de coisas boas! 

Nunca imaginei a minha vida sem a ritualística caneca de café com leite pela manhã. É uma delícia! 

Só que o cheiro de leite é estranho e ele me persegue desde a mais tenra idade. Quando eu era um bebê recém-nascido - terceira filha - minha mãe teve que voltar para a maternidade porque o corte da cirurgia inflamou. A Lurdes, que ajudava minha mãe em casa, ficou comigo e, sem saber o que fazer com tanto choro, me deu uma enorme mamadeira de leite de vaca. Foi neste exato momento da minha vida que o leite passou a fazer parte das minhas necessidades vitais. Mamei aquela mamadeira e dormi por muitas e muitas horas. A Lurdes ficou preocupada e até chegou a pensar que eu havia morrido. Colocou a mão na minha barriga para ver se eu respirava. Depois desse fato, o cheiro de leite tomou conta do meu corpo e uma das lembranças de minha irmã, é que eu cheirava leite azedo. 

O cheiro de leite também estava na perua velha do meu avô... Ele entregava leite nas casas das pessoas, naquele sistema antigo do interior. Brincávamos na perua, entre os galões azedos e se eu fechar os olhos ainda posso sentir aquele aroma. Cheiro de infância.
Essas memórias , simplesmente, vem a tona por causa do cheiro de leite.  Durante esse período de amamentação, tenho a sensação de que passo pelas pessoas e elas conseguem sentir o meu cheiro. Bom por um lado, pois na fila preferencial – quando estou sem a Heleninha – nem preciso justificar: “Sou lactante! Você sente?”. 

“Dona de divinas tetas”, passo horas dando mama.  Meus três filhos mamaram muito! Eles adoravam passar o tempinho deles dependurados em mim. Minha cunhada não se conforma: “Como seus filhos regurgitam, não?!”, também, não caberia tanto leite dentro, tem que sair! Jatos pela casa, leite escorrendo pelo meu ombro, queijinho, ricota, fraldinhas e mais fraldinhas azedas para lavar, vazamento noturno... Meus Deus, você pode sentir daí?! 

Amamentar é lindo, eu acho! Mas é dolorido, sacrificante, desgastante, dá fome, cansa...  Sem contar que os bebês sempre ficam incomodados no nosso colo porque querem mamar! Você pode ter acabado de dar, mas eles querem porque querem.  Temos que carregá-los de frente, resolve às vezes. 

Fora o ritual do mama, coisa que deixa meu marido bem irritado. Veja só: senta, arruma um apoio para as costas, liga o ventilador, arruma a perna, aperta o peito pra ver qual está cheio (“Dei esse? Não, dei o outro.”), tira o protetor, pega a fraldinha, coloca a bebê. Ela começa a sugar... “Ixi, esqueci a água! Que sede isso dá.” Tem também esse tal de protetor de seio que eu uso só para marcar por onde devo começar a mamada. Outro dia o encontrei embaixo de um copo de cerveja gelada. Olhei para o marido e ele disse: “Poxa, vocês sumiram com os meus aparadores de copo...”, protetor de peito aparando copo de cerveja gelado! 

Amamentar também pode ser constrangedor. Tem horas que me sinto envergonhada de amamentar em público só que não temos muitas escolhas. 

Como hoje, por exemplo. Levei a bebê no cardiologista, pois ela nasceu com sopro no coração. O tal do sopro “inocente”, nada grave. Mas seria necessário fazer um exame para confirmar que estava tudo bem. Tudo bem? Só com o coração dela porque comigo... Morri de vergonha. Para ela fazer o tal exame o médico disse: “Coloca a menina na maca sem blusa e deite-se ao lado dela para dar mama”. C-o-m-o-a-s-s-i-m? Apareceram essas letras em neon na minha testa. O médico percebeu e explicou novamente. Não adiantou nada, que coisa mais bizarra! Olha a cena: a bebê na maca. Eu deitada ao lado dela numa pose constrangedora. Mãos segurando a cabeça. Cotovelos apoiados .  As “divinas tetas” de fora. O médico na minha frente fazendo o exame. No mínimo tudo muito estranho. Pois é, o que não fazemos pelos filhos?  Me vendo naquela situação comecei a rir e falei “Ainda bem que fui eu que vim, já pensou se fosse meu marido? O que ele teria que fazer?”.

Escultura "Mulher Deitada de Lado" (2010) de Fernando Botero (foto: http://brazilenjoyit.blogspot.com.br/)
 

Amamentar é isso e mais um pouco. Com 3 filhos, acumulei casos sobre amamentação, como: sair de blusa aberta pelo shopping, vazar leite, rachar o bico e sangrar na boca do João, chorar de dor nos primeiros dias, esguichar leite na minha irmã, o marido ter que levar o João para mamar na teta da vizinha... ver de pertinho os olhinhos satisfeitos e gratos, sentir o cheirinho gostoso de leite que eles têm! Só quem amamenta sabe a delícia que é.

segunda-feira, 4 de março de 2013

MINHA MÃE CAIU... BOOM!


Se o Lucas pudesse falar, ele contaria essa história assim...
 
Eu estou acostumado a cair, ralar o meu joelho, bater com a cabeça na parede, tropeçar nas coisas pela casa. Caio até de sono! Também estou acostumado a ver meus amiguinhos caindo, chorando, curando os machucados - os tais “dodóis” - como os adultos falam. Mas sabe, ver a minha mãe caindo... Ah, isso é muito estranho. No começou pareceu um pouco assustador, mas depois, achei engraçado.
A história foi assim...
Estávamos chegando em casa. Já era noite. Minha mãe saiu do carro esbaforida (ela sempre anda desse jeito), entrou em casa e nos deixou presos em nossas cadeirinhas. É a função do meu pai tirar a gente do carro; minha mãe tira a bebê que é muito mais fácil. Eu e meu irmão sentamos láaaaaa atrás, praticamente no porta-malas.
Primeiro sai o João, ele é o mais velho e se solta sozinho do cinto de segurança. Eu, fico lá, esperando a boa vontade do meu pai em me tirar. A Heleninha, ainda presa, começou a chorar. Ela aprendeu comigo essa tática infalível: chorar e chorar! Mas tem que ser alto e sem parar. É assim que conseguimos as coisas em casa. Com esse tanto de criança disputando atenção, só botando a boca no mundo mesmo.
 
Meu irmão saiu segurando um copo cheio de brigadeiros que ele ganhou na festa de aniversário. Meu pai veio me tirar, oba, chegou a minha vez. Minha mãe saiu pela porta da sala e soltou um grito loooongo e grave: ahhhhhhhh! De repente, quando eu olho, ela estava estatelada no chão! Juro, não dava pra acreditar: minha mãe, de um metro e setenta de altura, jogada na frente da minha casa. Fiquei assustado e comecei a chorar. Pare para pensar: você já viu a sua mãe caída no chão? Cena terrível...
Notei que o João até derrubou os brigadeiros  e ele correu, se agachou ao lado da minha mãe. Decidi fazer o mesmo. “Mãe, você está bem?” E ela só sabia dizer “Ai que dor, ai que dor na minha mão.” Meu pai ficou confuso e perdido, não sabia se tirava a Helena do carro - ela ainda estava chorando muito - ou se levantava a minha mãe. Ela disse nervosa: “Tire a menina do carro!”, meu pai fez isso e colocou a bebê deitada no estofado de cadeira. Nós continuamos ali, olhando para ela deitada, largada, imóvel... Minha mãe só conseguiu se mexer quando meu pai a ajudou.
Meu pai disse que esse é o melhor desenho dela caída.
“Meu Deus, o que aconteceu? Como foi isso?”. “Eu me enrosquei na barra da calça e não consegui parar de cair. Eu até tentei pensar durante a queda, precisava arrumar meu corpo para cair bem... mas não deu! Olha os dedos da minha mão, estão todos machucados!”.
 
Tentei distraí-la com meus brinquedos e fazer uma graça, porém ela estava com uma cara de muita dor e colocou até gelo nos dedos. Meu irmão ficou bravo e disse pra minha mãe “Nunca mais use essa calça!”. Espero que ela não coloque mais mesmo, credo! Quase que ela vira “mãe de 3 com UMA mão só”!!!
 
PS: Tive que escrever essa história porque os dedos dela ainda doem. Assinado, Luquinhas!

sábado, 2 de março de 2013

MEDO DE FICAR SOZINHA COM OS TRÊS

Sempre fui uma pessoa muito medrosa. Quando menina eu tinha medo de dormir na casa das amigas, tinha medo que meus pais se separassem, medo que minha mãe morresse, que meu coração parasse de repente, de ladrão, de alma penada, de ir pra escola e meus amigos favoritos faltarem, da morte... Eu tinha dor de barriga de medo! 
 
Mas agora, não mais uma menina, continuo a temer muitas coisas. Claro que minha lista mudou um pouco, bem pouco! Continuo com medo de ladrão, ou melhor, hoje chamamos de bandido. Ladrão só roubava na minha época. Hoje bandido mata por nada, às vezes. Novos medos entraram para a lista, como: andar de avião, doenças sem cura, sangue, tomar anestesia, perder o emprego e ... ficar sozinha em casa com os meus três filhos!
 
Parece loucura, mas desenvolvi esse pavor logo após o parto. Um sentimento intenso de não dar conta, pois ter três crianças foge do padrão “corporal” de uma mãe. Temos duas mãos, dois pés, dois braços, dois olhos, duas orelhas, dois rins... o máximo é dois! E o que eu faria sozinha com três?
Descobri essa semana o que fazer.
 
Todo final de tarde fico com as crianças na frente de casa, encontramos os vizinhos, brincamos, conversamos, passeamos e tudo isso sem choro e sem manha. Mas, quando chega a hora de entrar para jantar: entro em pânico – estou sozinha com os três.
 
Heleninha está no carrinho e começa a chorar, só que não é chorar: é urrar de nervoso! Ela fica vermelha, engasga, fica com o corpinho todo duro e esticado. Seu choro é agudo e prolongado...Domina o cérebro da gente! 
 
O Lucas senta animado para comer e quando olha para o prato, começa a chorar. Joga a colher, joga comida no chão e na mesa, fica chorando e gritando “Mamãe, mamãe”. Fala que quer descer da mesa, eu o desço. Depois ele grita que quer subir...
 
E o mais velho? Ele está quietinho comendo sua comida numa boa, parece que nem escuta aquele “forfé” de choro dos irmãos. Até isso me deixa nervosa. Bem que ele podia balançar o carrinho, conversar com a bebê ou pegar a colher do chão. Nada vezes nada. Tranquilidade em pessoa!
São seis e meia da tarde quando o espetáculo do choro começou. Eu precisava fazer alguma coisa. Balançar o carrinho pra ela ficar calma? Como? O Lucas implora por colo e diz “Sai bebê!” Choro e mais choro. Põe a menina no carrinho e carrega o Lucas. Ela entra num estado impressionante de nervoso, parece que vai ficar sem ar... desce o Lucas, carrega a Helena. O João? Continua comendo, numa boa.
 
Nessa hora eu sinto uma coisa dentro de mim, mas não posso sentir, não tenho esse direito. Respiro. Não tenho como fugir, “as travas de segurança estão todas ativadas”! Sento e assisto ao espetáculo do choro incessante que durou até quase oito da noite.
 
Até que me bate aquela fome. “Nossa, sou gente também, gente que amamenta e preciso comer.” Sorte que inventaram o Miojjo. Deixo a turma chorando – três minutos – e faço alguma coisa para comer e quando o prato está pronto: “Mãe, eu quero comer!”. E o prato que era meu, dividi com os meninos. “Depois que pari a barriga não enchi”, diz minha ajudante Sueli. Sabedoria popular!
De repente, um barulho, uma bomba que veio de dentro da bebê e encheu sua fralda P de um cocô amarelo e azedo. Incrível a calmaria que acalenta aquele corpinho de 50 e poucos centímetros. Ela pára de chorar. Ele também.
 
Silêncio. Parece mentira! Em menos de 30 minutos, depois de mamas, pijaminhas, trocas de fraldas, minha trupe já estava dormindo: primeiro o santo do João, depois a Helena e por último, o Lucas.
Venci mais um medo. Vencemos juntos! Ao olhá-los dormindo, sinto uma paz profunda em meu coração, sinto um misto de pena e ternura... sinto que estou mais forte do que nunca e que sou mãe de três com apenas duas mãos.