quinta-feira, 25 de abril de 2013

AS VANTAGENS DE SE TRABALHAR COM CRIANÇAS


                   Volta à escola depois de quatro meses de licença maternidade. Você deixa um filho em casa e vai com os outros dois para o trabalho. Alegria também olhando por este lado e, pelo menos, alguma vantagem em se ter três filhos.
                Você pode pensar que é um regresso banal: cafezinho na chegada, meia dúzia de abraços de bom retorno, olhares e comentários sobre a sua barriga que diminuiu (mas não sumiu!) e o seu corpo que “parece” ter voltado ao normal. Perguntas sobre o bebê, com quem ficou etc e tal. Ponto. Volta tudo ao normal: trabalho. Se fosse num ambiente profissional em que só adultos convivem, sim, seria ponto final e trabalho.
                Mas sabe, eu trabalho com crianças. Isso mesmo, deixo três filhos para conviver intensamente com outros vinte seres humanos pequenos e tão admiráveis. Tem gente que acha que é loucura, “nasceu com o dom” ou qualquer coisa do tipo. Porém, hoje vou contar algumas das inúmeras vantagens de se trabalhar com as crianças.
                Elas são assim, em primeiro lugar: honestas. Tão diferentes de grupos de trabalho feminino, onde as mulheres elogiam sempre sua roupa, mas no banheiro tiram o maior sarro da combinação de estampas que você fez. Com as crianças não é assim: dizem na cara se está bonito ou se está feio. E quando gostam de você, te acham linda até com a mais brega combinação. Comentam sobre seu corte de cabelo, os fios brancos, as pintas inusitadas no seu rosto! Reparam, perguntam e olham admiradas para cada detalhe seu.
                As crianças correm ao seu encontro e te abraçam com força que até dói. Gratuitamente! Só porque te querem bem. É abraço sincero, carinhoso, suado às vezes. Abraço que te recupera de toda e qualquer chateação.
                Elas te olham nos olhos, dizem que realmente sentiram saudades e passam horas falando sobre suas vidas, suas histórias e travessuras. Adoram falar de tragédia, de tombo, machucados e derivados. Querem a nossa total atenção a todo momento. Elas têm a enorme capacidade de contarem suas histórias ao mesmo tempo, falam juntas e você desenvolve a habilidade de ouvir três ou quatro histórias de uma só vez.
Esses pequenos te desenham com todos os exageros reais que você tem e te entregam de presente para que nunca os esqueça. Eles brigam para sentar do seu lado, para pegar na sua mão... e escrevem cartinhas e poemas para lhe roubarem lágrimas de tanta emoção.
Fazem fila para abraço, beijam seu rosto e o deixam molhado, querem que você corra, brinque e tenha fôlego para acompanhar suas brincadeiras. Nos chamam de mãe, de vó, pai e até do nome da empregada.
A única desvantagem é que essas crianças crescem e deixam de lado a simplicidade e a honestidade daquele tempo em que diziam, por desenhos ou por olhares, que gostavam de verdade de você.
                Trabalhar com crianças é assim: intenso e verdadeiro. Energia que esgota e revigora!
 

Algumas frases preciosas que já ouvi das crianças:

“Nossa Lívia, sua pele parece uma galinha depenada!”
“Olha, quanto cabelo branco! Posso contar?”
“Lívia seu cabelo está bonito, ficou igualzinho da minha vó”
“Quando você era nossa professora da 1ª série (três anos atrás) você usava essa calça”
“Você só tem esse sapato?”
“Sora, vai lá na minha casa tomar um café e contar uma história?”
“Sora, você veio da Bahia? Você fala que nem baiano!”
"O que é isso dentro do seu olho?"
 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

TANTO SOFRIMENTO POR ALGUNS “mls”! ESSA É A VIDA DE MÃE...


Parece simples, mas não é. Você arruma seu prato de comida, escolhe os alimentos que agradam seu paladar, que sente prazer em comê-los e com um garfo e uma faca se delicia. Dessa forma você coloca combustível no seu corpo e sente um dos maiores prazeres humano: comer. Só que nem passa pela sua cabeça como tudo isso começou: sua mãe com você no colo, o cheiro do leite, a sucção, o quentinho, acalento, amor incondicional de mãe.

                É assim que começa seu maior prazer e a fonte vital da sua vida. Tudo isso dependeu da disponibilidade, da determinação, do prazer e da dor da sua mãe. Mesmo se ela um dia teve que abrir mão do aleitamento materno para lhe dar uma mamadeira.  Pode ter certeza, também não foi tão simples assim.

                Talvez você pense como os pediatras: “deixe sua filha com fome que ela pegará a mamadeira”, tudo bem! Então eu a deixarei com fome e levarei ao seu consultório para VOCÊ tentar dar a mamadeira para ela. Aí sim, saberá do que estou falando. Eu sei que ela não morrerá de fome, que não morrerá de chorar, que não morrerá por causa de uma mamadeira, só que no meio desse acontecimento não tem como não sofrer.

                Estamos no nosso terceiro dia tentando introduzir uma única mamadeira na manhã da Helena, pois volto ao trabalho daqui três dias. Minha filha tem uma crise nervosa só de colocar o bico na sua boca! Ela não aceitou a chupeta e detesta o cheiro, a textura e tudo o que acompanha o gélido plástico da mamadeira. Enquanto ela chora no colo da pessoa iluminada que me ajudará a cuidar da Helena, eu choro no banheiro pedindo uma luz divina, uma providência dos seres que nos protegem e nos guiam desse lugar desconhecido, mas que podemos sentir.

                Já se passaram mais de 30 minutos, o choro resiste e eu me desmancho por dentro... “Onde estão os anjos? Nos deixaram aqui desamparadas? Precisamos de ajuda!”, e uma voz dura me chacoalha e sopra em meu rosto uma sincera mensagem: “Estamos cuidando das mães que sofrem porque perderam seus filhos, que estão sentadas num hospital esperando um horário para ver suas crianças doentes ou que acabaram de parir e não puderam levar a coisa mais preciosas de suas vidas para casa, para o quartinho que arrumaram com tanto carinho. Estamos com elas, Lívia! Sua filha é perfeita e está com você. Com certeza tirará tudo isso de letra! Força, ergue a tua cabeça, pare de olhar para esse seu umbigo e pense na dor maior de outras tantas mães.”

                Obrigada anjo, agora posso ouvir o silêncio da minha alma e da minha casa. Helena se acalmou e conseguiu sugar alguns “mls” da mamadeira.

                Fui tomada pela força de todas as mães que, neste exato momento, choram e suplicam pela vida de seus filhos. Rezei por elas. Parei de chorar por mim e passei a sentir a fortaleza que move essas mulheres guerreiras. Sou mesmo uma minhoca desmilinguida perto delas...

                Há uma voz dentro da gente que nos direciona para o caminho que precisamos ir. Só que o barulho dos pensamentos errados, o burbúrio do ego e do individualismo nos ensurdece. Acabamos fazendo tudo errado, desvirtuamos do caminho e pegamos o atalho para o sofrimento desnecessário.

                Ser mãe de um, dois, três ou mais filhos é se deparar com a complexidade da vida e com os sentimentos que só a vida pode gerar. Nada é previsível com os filhos! Ninguém tira de letra só porque é a terceira vez. E se há alguma voz dentro de você que possa te ajudar (ou te dar uma bronca) num momento complicado, dentro desse teatro efêmero da maternidade, pare, sinta, escute o silêncio em você. Agradeça a vida que lhe foi confiada e siga em frente, sentindo a fortaleza de todas as mulheres-mães do mundo!

               

terça-feira, 9 de abril de 2013

UÉ, MEU CORPO EMBURRECEU?!!

               Ah... o nosso corpo! Casa própria gratuita, a primeira morada dos meus filhos, lar das coisas que são só minhas. Meu meio de transporte, meu descanso, diversão, antro da dor e da emoção. Meu corpo! Foi emprestado três vezes para alojar as maiores riquezas da minha vida. E quando essa consignação é feita, estragos, deteriorizações e prejuízos também acabam fazendo parte do pacote. A cada gestação, uma proporção maior! O tempo e a idade colaboram para que a situação fique ainda mais complicada.

                Prestes a completar meu trigésimo primeiro aniversário, paro para pensar sobre o meu corpo. Decidi pensar usando pernas, braços, cintura, joelhos... e não só exercitar a cabeça. Foi uma surpresa enorme o que constatei.
                Quando criança sempre gostei de dançar. Nunca fui boa para os esportes, então passava horas com a sonata vermelha tocando os hits do momento, montando coreografias para serem apresentadas na garagem de casa. Fiz um tempinho de balé só que não foi pra frente (essas coisas não vão para frente em Monte Mor, minha cidade natal). Aí eu fiz um ano de jazz. Amava dançar, imitar a Xuxa, a Angélica, Mara Maravilha! Tudo bem que eu não era um “Carlinhos de Jesus”, mas eu dançava, ou seja, conseguia controlar os movimentos de braços e pernas no ritmo de uma música.
                Só que o tempo passa, o corpo vai ficando de lado, na cabeça só entram conteúdos escolares, preocupações com a vida profissional, será que vou casar, o que vai ser de mim. Foram anos de um corpo a serviço de uma vida parada e cerebral.

                Com a chegada dos filhos esse corpo foi tomando outra forma: sobra aqui para sentar, dói ali para abaixar, cansa lá para correr atrás e fica sem fôlego acolá para pular. Dá desgosto mexer no guarda roupa e ver aquela calça não passar das coxas... e pensar que eu a usava no ano passado! Não, não, não! É hora de dar um basta e pegar essa calça como meta de superação, colocá-la dependurada na parede do banheiro e experimentá-la todos os dias até entrar.
                Então, vamos alimentar direito esse corpo e “botar” pra mexer, chega de ficar chocando ovos! Decidi ir para a academia e usar os vinte dias de licença que restavam para entrar na calça jeans que está dependurada no banheiro.
                Fechar a boca é mais fácil, quero dizer, fechá-la para os bolos da padaria que fica atrás de casa, parar de comer chocolate, não abrir mais as latas de leite condensado etc. Abrir a boca para comer na hora certa a coisa certa. Tudo isso estou tirando de letra, mas...
                Cheguei na academia, alegria! Quer saber onde? Clique aqui! Só tem mulheres. Mulheres como eu, que querem dar uma qualidade de vida para o corpo, que também devem estar ansiosas para entrar numa calça jeans e que chegaram ao limite da insatisfação com tudo que sobra (agora sem sentar). Assim fica mais fácil e menos dolorido. Duro é chegar num lugar com um monte de poposudas durinhas, que carregam 100kg nos aparelhos.
                E vamos dançar! Oba, isso eu sei fazer, pelo menos. Tá, dois para a direita um para a esquerda. Legal! Olha como eu sei dançar. Agora coloca os braços pra cima, bate palma e dá um giro. Ops, peraí. Como? Caramba, não vai! Tenta outra vez! Dois, três, braço, roda, pula... Ah! Deu um nó!
                Que decepção... meu corpo emburreceu! Não consigo conciliar perna, braço, giro, ritmo... O que aconteceu? Não é como andar de bicicleta, que a gente nunca esquece? Parece que não. É uma coisa que a cabeça não consegue mandar, ou melhor, ela manda só que o corpo não faz. Simplesmente se enrosca, faz outra coisa e não obedece a vontade do meu pensamento. Acho que meu corpo se rebelou contra mim! “Quem mandou, me deixou largado às traças, parado, você nunca mais dançou!”.
 
                É...eu deixei de dançar. Mas não só deixei de dançar como parei de cantar, de tocar violão, de andar de bicicleta, de correr, de esconder, de rodar bambolê, pular corda. Meu corpo gostava de fazer essas coisas e me deixou na mão quando precisei dele outra vez. Por pouco tempo! Espere! Vou mostrar para ele que ainda somos parceiros, que fazemos parte de uma única pessoa, que sou ele e que ele “me é”! (Licença poética! Obrigada!).

terça-feira, 2 de abril de 2013

É O COMEÇO DO FIM: LICENÇA MATERNIDADE

                Quem nunca sofreu de saudades com uma separação? O término de um relacionamento, uma viagem, mudança de escola, de cidade, a morte de um ente querido... Ficar fisicamente longe das pessoas que amamos dói e não tem analgésico que faça essa dor passar. Talvez porque esse sentimento se instale num lugar estranho e desconhecido, e farmacêutico nenhum descobriu o medicamento adequado para a dor da saudade.
                É dessa saudade doída que as mães sofrem quando termina a licença maternidade. Quando termina, não! Antes mesmo de nossos filhos nascerem já sofremos antecipadamente. Da mesma forma que planejamos ansiosas e felizes por nosso primeiro encontro, também prevemos tristemente (ou até desesperadamente!) o dia da nossa primeira separação.
                Eles passam nove meses dentro do nosso corpo, depois nascem e continuam a passar os quatro meses de licença em intenso contato corporal: mamando, agarradinhos em nosso colo, trocamos a fralda, controlamos tudo o que entra e sai do pequeno corpinho.
                O período de licença é muito intenso para as mulheres-mães, pois vivemos uma tempestade hormonal, emocional, corporal, braçal, racional e tantos outros “AL” que nos atormentam nessa fase.
                Primeiro nos recuperamos das dores: do parto, do bico do seio rachado, das visitas inesperadas e desapressadas, da insônia forçada, da alimentação regrada. Depois iniciamos o longo e difícil processo de conhecer o bebê, de desvendar seu choro, seu gosto, seu jeito... de julgar “Se parece comigo ou com você?”, as coisas boas puxou da mãe, claro. O que é ruim, óbvio, “Olha, como faz igualzinho ao pai?!”. Passamos horas procurando semelhanças, observando os detalhes da mãozinha, pé, olhos, narizinho, até das genitálias! Estou mentindo? Eu fiquei impressionada quando tive que cuidar do primeiro pipi da minha vida! Meu filho era uma extensão do meu corpo e tinha pipi! Foi difícil acostumar... como limpar, como arrumar na fralda, (coloca pra cima ou coloca pra baixo?!). Quando veio a menina, eu continuei a admirar e observar: “Meu Deus, eu tenho uma menina!”. Aí eu também não sabia como limpar! Estava acostumada com a outra coisa...


 A terceira etapa da licença muda de cara: começamos a ficar inquietas! Queremos sair, passear com o bebê, ir ao banco, supermercado... só que quando chegamos lá, nos arrependemos. Vento, frio, cocô no meio da saída, uma mamada inesperada em público. “Não vou sair mais”. Só que não adianta, o faniquito é tão grande que dói ficar em casa. A rotina vai nos corroendo, a nossa identidade fica escondida e já não sabemos mais o que éramos antes de ser mãe. Precisamos da um grito de liberdade! Aí, inventamos de sair e deixar o bebê com o marido. Encontramos as amigas e qual é o assunto? O bebê que ficou em casa! Ligações, várias ligações, uma atrás da outra “E aí? Chorou? Tá dormindo ainda? Fez cocô? Limpa direito a bundinha!”. Recomendações e saudades! Voltamos para casa mais cedo.
                Depois encasquetamos em perder peso, recuperar o corpo, voltar a entrar naquela calça jeans mais justinha, comer menos, exercitar. Só que tem dias em que a criança decide ficar acordada e chorando. Você persiste: coloca roupa de ginástica, põe o bebê no carrinho, sai pra rua fazer uma caminhada. Acontece que tem dias... chorando! A criatura no carrinho urrando de chorar, você com aquela roupinha querendo caminhar, as pessoas te olhando naquela situação, andando aflita com seu filho chorando. Meia volta e regressa para casa! O negócio é exercitar com a vassoura, paninho com rodo, chacoalhar o bebê no colo e outras coisas mais.
                E pensar que tem gente que acha que mulher de licença maternidade está de folga. Pois é, folga sem dormir, sem comer, sem tomar banho direito, sem poder ver um filme inteiro, sem beber uma cervejinha, sem sair de casa, sem falar de outro assunto que não seja filhos, sem sem sem cem mil trabalhos que fazemos enquanto estamos de licença. Com licença, vai!
                Quando o começo do fim chega a gente se sente assim: angustiada, nervosa, dividida... Com quem deixar? Escola? Alguém em casa? Minha mãe? Não sei. Ninguém cuidará dela como eu. Ninguém conhece ela como eu. Ela precisa muito de mim e eu? Eu preciso dela, do cheirinho dela, da nossa rotininha estressante e tão feliz. Nós!
                Podem falar que não é pra sempre, que serão só algumas horas do dia, que é a terceira vez que passo por isso e blá blá blá. Para o coração de uma mãe esse momento sempre será igual. Dolorido no corpo e na alma. Tudo bem, eu sei que passa. Não estou aqui vivinha da silva? Só que agora dói. Já estou sentindo saudades!
                E olha que é só o começo do fim.