segunda-feira, 1 de julho de 2013

Desintoxicação "televisional"

          Ele simplesmente ignorou a minha fala de que "a televisão deve ser desligada às 9h da manhã". Fui para o trabalho e, quando liguei para saber se estava tudo bem em casa, tive a notícia que ele ainda estava de pijama e com a TV ligada. Isso era quase 10h. Dei a ordem expressa que ele deveria desligar aquilo e tirar o pijama e escovar os dentes e... e... fazer qualquer coisa que não fosse ficar sentado naquele sofá vendo desenho. Tudo bem, era o primeiro dia de férias do meu filho mais velho...
         Quando cheguei em casa, depois do almoço, às 14h, vi que ele estava sentado vendo TV. Perguntei: "Você cumpriu o combinado de hoje? Desligou às 9h?". Sem ao menos olhar pra mim ele disse "aham". Achou que me enganava! "Faz tempo que você está vendo ou ligou a TV agora?" Olhos fixados no programa "aham. É... eu liguei agora." "Filho, olha pra sua mãe, vou te dar a chance de me dizer a verdade: você cumpriu o combinado?". "Aham!". "Me dá esse controle! Eu vou desligar isso AGORA! Me dá o controle, menino! Se você dificultar as coisas ficará sem ver essa porcaria!".
          Nesse momento meu filho se transformou num desses personagens horrorosos do Cartoon, um ser "sombrio" com ódio nos olhos. Ele lutava comigo pelos controles da mesma forma que esses "pseudos heróis" (ou anti heróis) lutam na TV. Urrava, fazia vozes, dizia palavras estranhas, armava seu corpo para uma batalha - uma batalha contra a sua própria mãe. Achando que tudo aquilo estava indo longe demais, mantive a calma. Tirei as pilhas do controle e escondi no bolso de um casaco no guarda roupa.
         Ele corria e gritava pela casa. Chorava e uivava, como um lobo. Desarrumou a cama do irmão (claro que a dele ficou intacta!), bateu portas, gritou, gritou... Cansou! Voltou para cima de mim, apontou o dedo no meu nariz e disse "Traidora!". Traidora, eu? Pobre mãe tonta que faz tudo por ele, mas isso não poderia ficar assim. "Para filho, se acalma! Isso vai ser pior para você!" "Suma da minha casa, vai embora, sua mãe ruim!". Eu sei, ele tinha certeza que estava vivendo um dos seus seriados da televisão... só que eu estava ficando brava com tudo isso!
         Para quem conhece o meu filho mais velho ou que acompanha as histórias do Blog, sabe que o João é calmo, uma criança passiva e boazinha. Mas quando a fúria vem (e normalmente é com a mãe, claro. Freud explica!) ela é avassaladora e terrível.
          Dei um basta. Um grito e um chacoalhão! "Pode parar menino, você passou dos limites agora! Você está proibido de ver televisão atéééééé´eu achar que pode voltar."
          João chorou, arrependeu-se, pediu desculpas... mas eu continuava invicta sobre o tempo sem ver televisão. No primeiro dia ele ficou perdido, chorou muito quando chegou o horário do seu programa favorito. Teve até tremedeira, fraqueza, indigestão... De fato, minha gente: desintoxicação!
          Só que, ao se ver sem a dita cuja, ele começou a pensar em coisas alternativas para fazer. E nesta noite, antes de dormir, ele leu um livro. No outro dia, redescobriu os brinquedos do seu quarto. Percebeu que é divertido brincar de correr pela casa com seu irmão mais novo. Passou horas me ajudando a fazer as coisas da escola, conversando, trocando ideias e elaborando muitas perguntas. Foi ao supermercado e leu preços, comparou produtos e escolheu guloseimas. Aprendeu a fazer mágica. Dormiu até mais tarde num dia de chuva. Ensinou o nome de cada "trash pack" para o seu irmão...
          Nesses dias meu filho está aprendendo a ser mais criança, a viver no mundo de onde ele realmente  faz parte. E eu estou aprendendo que vale a pena dizer não para poder estar mais ao lado dele. Claro que às vezes é mais fácil ligar a televisão e deixar que ela domine seus filhos enquanto você faz outras coisas. Difícil é parar tudo para inventar uma brincadeira, ler as regras de um jogo para poder jogar, fazer uma receita e deixar que as crianças entrem e baguncem a sua cozinha.
          
            "Oh Crideeee, fala pra mãe! Que tudo o que antena captar, meu coração captura!"