terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Uma vida no frio - Parte I (porque o inverno nem começou!)


Pelas redes sociais posso ver a praia, o céu azul da nossa terra, a cerveja gelada num quiosque à beira mar, piscina, peles bronzeadas. Posso até sentir o cheiro da porção de camarão à milanesa com limão e molho de pimenta, do pastel de queijo minas... vejo de longe esse Brasil caloroso, de temperatura beirando o insuportável, de gente festeira que comemora a chegada do verão, as férias e as viagens de final de ano.

Como anda a vida aqui? Em tons de cinza! É tanta nostalgia que uma caminhada matinal até a escola daria uma centena de poesias e canções de saudades. O frio vem chegando ora de mansinho e branco, ora com aquele vento avassalador, nos enchendo a cara de tapas. Se o dia está lindo e muito ensolarado, se prepare! Vai congelar lá fora!  É como disse a amiga da Renata Leitão (amiga que já deve estar se bronzeando nas praias do nordeste), "Sol aqui em Boston é como luz de geladeira: só ilumina, mas não esquenta". Se chove, fica mais quente (ou melhor, menos frio!) e mais suportável de andar na rua (se é que andar na rua com chuva é algo suportável!).


Uma coisa é ver o frio pela janela da sala: o chão ficando branco, as árvores nuas se despedem das últimas folhas que caem, o céu cinza e a noite que chega às 4 da tarde. Outra coisa é sair pra rua, ou melhor, andar na rua.

Uma coisa é andar na rua sozinho! Você pode colocar sua mão no bolso, esconder o rosto enroscando no casaco, andar mais rápido para esquentar etc. Outra coisa é você andar na rua empurrando um carrinho com duas crianças dentro e uma outra que anda com passos mais lentos ao seu lado. Isso é passar frio de verdade! E pode estar chovendo, ou nevando, ou ventando... (e o que mais pode acontecer nessa terra congelante?!), nós estamos lá, na rua, ida e volta para a escola do João. São 10 minutos de caminhada na ida e mais 10 para voltar. Tempo suficiente para queimar a mão e rosto de frio, tipo uma queimadura de sol do verão do Brasil! Pois é, eu queimei minha mão duas vezes porque, ou eu segurava aquele carrinho com meus filhos, ou botava minha mão no bolso e deixava meus filhos descerem rua abaixo. Preferi segurar as crianças!

E sabe o que é o pior? Você lá, andando, morrendo de frio, empurrando aquele carrinho pesado, sem fôlego, sem sentir sua boca... e você vê crianças correndo felizes, com um casaquinho leve, sem luva e sem gorro! Ninguém aqui reclama da chuva, da neve, do frio! Andam na mais pura alegria. E eu, devo andar com aquela cara de quem está indo pro calvário. Credo!


Meu filho João, acorda todos os dias bem cedinho, troca de roupa, toma seu café e sai de casa com temperaturas negativas... e ele NUNCA reclamou de nada! Nunca disse um "ai que frio"; ele só diz se nós perguntamos. Incrível! Eu só admiro. Se fosse no Brasil, batia 10 graus (positivíssemos) de manhãzinha, as mães dos meus alunos já não mandavam as crianças pra escola. Tinham dó de tirar do quentinho! Aqui ninguém não tem essa moleza, até porque a escola ficaria vazia desde o outono!

O frio é bem lindo nos filmes e nas fotos... na pele, é dureza. O bom mesmo do frio é entrar em casa com tudo quentinho, tomar um café ou um vinho no jantar. O bom do frio é pegar o trem ou o 51 (ônibus que passa aqui perto de casa). É reunir os amigos brasileiros, deixar as crianças de molho na banheira quentinha, pegar um café na Starbucks, ver a neve branquear o quintal, tomar um sorvete com calda quente de chocolate na J.P. Licks e tantas outras coisas.





Uma vida no frio é assim. E olha que ele ainda mal começou!