segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Para ler com as crianças - O jardim



A rã estava em seu jardim. O sapo caminhava ali por perto. “Que lindo jardim você tem, Rã,” ele disse.
“Sim,” falou a rã. “Ter um jardim é ótimo, mas deu muito trabalho.”
“Eu espero, um dia, também ter um jardim”, suspirou o sapo.
“Aqui estão algumas sementes de flores para você começar. Plante-as no chão,” completou a rã, “ e em breve você terá um lindo jardim.”
“Demora muito?” perguntou o sapo.
“Muito breve”, respondeu a rã.


O sapo correu para a casa. Ele plantou as sementes de flores. “Sementes," disse solenemente o sapo, "comecem a crescer agora.”

Ele andou de lá para cá uma porção de vezes. E nada… As sementes ainda não haviam crescido.

O sapo aproximou sua cabeça perto da terra onde estavam as sementes e disse bem alto, “Sementes, comecem a crescer agora!”
O sapo olhou para o chão novamente. As sementes não haviam crescido.

O sapo colocou sua cabeça muito perto da terra e gritou “SEMENTES, COMECEM A CRESCER AGORA!”

A rã veio correndo pelo caminho. “Que barulheira é esta aqui?”, ela perguntou.
“Minhas sementes não querem crescer”, disse o sapo.

“Você está gritando muito,” falou a rã. “E essas pobres sementes estão com medo de crescer.”
‘Minhas sementes estão com medo de crescer?” questionou o sapo.
“Claro,”explicou a rã. “Deixe-as em paz por alguns dias. Deixe o sol brilhar sobre elas, deixe a chuva cair e molhar a terra. Logo suas sementes começarão a crescer.”

Naquela noite o sapo ficou espiando pela janela. “Droga!" esbravejou. “Minhas sementes ainda não começaram a crescer. Elas devem estar com muito medo da escuridão da noite.

O sapo foi para o jardim com algumas velas acesas. “Vou ler uma histórias para vocês, minhas sementes,” falou o sapo. “E então, não terão mais medo algum”.
O sapo leu uma longa história para suas sementes.



E todos os dias o sapo cantava lindas canções para as suas sementes.

E todos os dias o sapo lia diversos poemas para as suas sementes.

E todos os dias o sapo tocava várias melodias para as suas sementes.

O sapo olhou para o chão. As sementes ainda não haviam crescido.

“O que mais eu preciso fazer?” choramingou o sapo. "Essas devem ser as sementes mais teimosas de todo o mundo!”

Então o sapo sentiu uma canseira danada e adormeceu.

“Sapo, sapo, acorde,” disse a rã. “Olhe para o seu jardim!”
O sapo olhou para o jardim. Viu pequenos pontinhos verdes brotando do chão.
“Até que enfim,” gritou o sapo, “minhas sementes pararam com esse medo de crescer!”
“E agora você também tem um lindo jardim,” comemorou a rã.


“Sim,” falou o sapo, “mas sabe rã, você estava certa. Esse jardim me deu muito trabalho.”




LOBEL, Arnold. Frog and Toad together. Barnes & Noble, New York: 2005.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Para ler com as crianças - A lista

Já faz um tempo que eu uso os livros que o João traz da biblioteca da escola para treinar meu inglês. Além de ter mais facilidade para ler e compreender este tipo de livro, também aproveito para conhecer um pouco da literatura infantil do país onde eu vivo agora.
Gosto muito da qualidade do material em si, das ilustrações e, principalmente, das histórias que leio.
Essa semana veio este livro para casa, Frog and Toad Together, de Arnold Lobel. Logo na primeira história já me diverti muito! Eles me lembraram uma dupla de palhaços!
Vi que não temos esse livro traduzido no Brasil, então resolvi compartilhar com vocês a primeira história que abre esse engraçado livro de dois grandes amigos.
Espero que gostem!

 A LISTA




Numa manhã, o sapo sentou em sua cama e disse “Eu tenho muitas coisas para fazer”. Eu vou escrever todas essas coisas em uma lista para poder lembrar depois.”
O sapo anotou em um pedaço de papel: 

LISTA DE COISAS PARA FAZER HOJE

Depois ele escreveu:
ACORDE

“Vamos começar”, disse o sapo e riscou da lista:

ACORDE

Em seguida o sapo anotou outras coisas no pequeno papel



LISTA DE COISAS PARA FAZER

ACORDE
TOME CAFÉ 
VISTA-SE 
VÁ À CASA DA RÃ
PASSEIE COM O FROG
ALMOCE
TIRE UM COCHILO
BRINQUE COM A RÃ
COMA MUITO
VÁ DORMIR

"Pronto, agora meu dia está todo escrito neste papel”, comemorou o sapo muito satisfeito.





Ele levantou da cama e comeu alguma coisa. Em seguida riscou:  

TOME CAFÉ 









O sapo tirou suas roupas do armário e as vestiu. Depois conferiu: 

VISTA-SE 


E então pôs a lista no bolso.




Abriu a porta e caminhou sossegado pela manhã fresca. Logo estava em frente a porta da Rã. Ele tirou a lista do bolso e riscou: 

VÁ À CASA DA RÃ



O sapo bateu na porta:

“Olá”, disse a rã.
“Olha só, essa é a lista das coisas que preciso fazer hoje”, foi logo mostrando seu minúsculo pedaço de papel.
“Oh, isso é muito legal”, comentou a rã.
O sapo disse então, “Minha lista agora me diz que precisamos dar um passeio”.
“Tudo bem, eu estou pronta”, falou a rã.


A rã e o sapo deram um longo passeio. Em seguida, o sapo tirou a lista do bolso outra vez e riscou:

PASSEIE COM A RÃ

Só que por ali passou um vento muito forte que arrancou a lista das mãos do sapo. Aquele pedaço de papel rodopiou e voou alto pelo ar afora.

“Socorro”, gritou o sapo. “Minha lista foi embora com o vento. E agora, o que eu vou fazer sem a minha lista?”

“Venha comigo”, falou a rã. “Nós corremos atrás da lista e a pegamos”.
“Não!” gritou o sapo. “Eu não consigo fazer isso”.
“Por que não?”, perguntou a rã.
“Porque,” gemeu o sapo, “correr atrás da minha lista não é umas das coisas que escrevi na minha lista de coisas pra fazer!


A rã nem esperou e saiu correndo atrás do papel que voava. Ela atravessou colinas e pântanos, mas a lista voou pelos ares e desapareceu nas alturas.

“Me desculpe”, engasgou a rã, “mas eu não consegui pegar sua lista”.
“Bah”, disse o sapo. “Não consigo me lembrar de nenhuma das coisas escritas nela. Agora, eu apenas preciso ficar sentado aqui fazendo nada”, disse o sapo.


Ele sentou e não fez mais nada mesmo. A rã sentou com ele.




Depois de um longo tempo em silêncio a rã falou, “Sapo, está ficando escuro. Nós precisamos ir dormir agora.”
“Vá dormir”, gritou ele. "Isso era a última coisa da minha lista!”
O sapo escreveu no chão com um galho:

VÁ DORMIR

E depois riscou:
VÁ DORMIR

“Agora sim”, disse o sapo  “Meu dia está todo riscado”!
“Eu estou feliz”, comentou a rã.
E daí a rã e o sapo foram dormir.


LOBEL, Arnold. Frog and Toad together. Barnes & Noble, New York: 2005.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O lugar mais seguro do mundo



Se me perguntarem, digo que sou uma pessoa de coragem. Mas, no fuuuundo, que beira bem o raso do meu ser, sou muito medrosa. Por isso, sempre busco um lugar onde me sinto segura e protegida. E esse lugar é aqui (na linha de baixo).

A noite cai sem pedir licença e no momento que menos queremos que ela apareça. De repente, é a hora de dormir e eu sinto uma vontade que cresce como um gigante de não ir para a minha cama. Pode ser pegar no sono no sofá, no tapete ou sobre a mesa da cozinha enquanto meus pais conversam depois do jantar. Quero ouvir essa voz de fundo nos meus sonhos, ter a certeza de que alguém no mundo está de olho aberto e em alerta caso aconteça qualquer coisa por aqui.

Mas quando vejo, arregalo os olhos, estou no meu quarto escuro, naquela cama gelada, sem uma voz que expresse vida acordada na terra. Saio correndo e, quase sem pensar, entro naquele quarto onde há o lugar mais seguro do mundo: a cama da minha mãe e do meu pai. Entro pela porta de acesso livre, o canto do meu pai, que nem me vê chegar; mas nada passa desapercebido pelo radar dela... "Volte para sua cama!", "Só um pouquinho, mãe, por favor!". A canseira dela não dá brecha para uma discussão e eu fico sentindo o calor das pessoas mais importantes da minha vida. Ali o fantasma não chega, a alma penada não puxa o pé, a febre passa, nada dói, não tem monstro do guarda-roupa, pesadelo e ladrão? Se tiver, eu abraço meus pais e juntos lutamos contra os ladrões. Aqui me sinto um super herói.

E tem lugar pra todo mundo, viu?! Tem outros que aparecem na porta e acabam ficando nos pés ou encolhidinho num canto que sobrou. Mas a gente foi crescendo e, naquela época, não tinha cama king size e o lugar mais protegido do mundo foi ficando cada vez mais complicado de se visitar de madrugada. 

Sempre tive sonhos que me faziam acordar assustada e com medo. Mesmo menina grande, lá ia eu com meu travesseiro e colchão para o lado de minha mãe. Ela me afagava com tanto amor, rezava alguma coisa baixinho pro medo passar, segurava minha mão. "Mãe, não dorme! Eu tô acordada ainda!"; "Não estou dormindo filha, só descansando a vista", dizia ela. "Então abre o olho, mãe!". E aquela luz da velinha acesa no quarto deles embalava meu sono como uma canção de ninar.

Foi esse lugar mais protegido do mundo que me ensinou a ter coragem de mãe. Sempre que me sinto com medo ou insegura com qualquer situação, penso nesse estado de segurança que me acalentava quando era apenas filha. Hoje, quando me assusto com um baixinho na beira da minha cama, dizendo "Mãe, posso dormir ai com você?!", já boto correndo pra perto de mim. Seguro a mão, pergunto qual era o pesadelo, rezo baixinho pro anjo da guarda tirar qualquer coisa ruim dos pensamentos dos meus filhos.

Os pediatras e especialistas podem dizer que isso não está certo, que criança tem que dormir a noite toda na própria cama, aplicam novas técnicas e fazem terapia com os pais. Tudo bem que eu também não sou de todo contra e nem a favor, sou uma mãe ponderada que escuta todas as partes e que age pelo impulso do coração na maioria das vezes. Eu não quero meus três filhos dormindo todos os dias no meio da gente, porque aí eu não durmo mesmo! 

São as minhas lembranças me levam para esse lugar seguro e quentinho, que também foi negado algumas vezes - eu aprendi a amá-lo ainda mais quando era dito não! - e é isso que me faz entender o sentimento dos meus filhos quando nos abraçam agradecidos no meio da madrugada.

E que essa lembrança afetuosa também fique guardada para sempre no pensamento dessas três queridas crianças toda vez que apagarem a luz para dormir. 

"Boa noite, meus filhos, durmam com Deus!", ainda diz a voz da minha mãe de longe, que passa por esse fio invisível que une as almas. Mal sabe ela que essa frase sempre soou para mim assim: dormir com Deus deve ser que nem dormir na cama com vocês.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Como medir um grande ano?


Parece um tanto estranho, mas não sinto aquela velha vibração da chegada do novo ano. Deve ser porque estamos longe e as comemorações familiares perdem um pouco seu sentido quando estamos distantes. Só que não deve ser só isso! Minha virada de ano já foi em julho e eu sei bem o motivo...

Um grande ano começa quando abrimos mãos de coisas velhas (ou nem tanto assim), quando arrumamos o armário, nos desfazemos de móveis que não nos agradam mais, ou quando doamos os sapatos que quase nunca usamos. Um grande ano começa quando renovamos o contrato com a gente mesmo, nos damos uma nova chance e decidimos mudar pra valer.

Meu ano novo começou quando esvaziei aos poucos a minha casa e, com um aperto no peito, vi os olhares dos meus filhos para o berço que ia... para as cadeirinhas de passeio, a cozinha, o fogão... tudo foi embora. Esvaziamos nosso coração de tudo que nos incomodava ou nos deixava triste. A cada coisa que ia, guardávamos uma moeda na caixinha da esperança que conseguiríamos em dobro.

Foi novo pra mim abrir mão do meu trabalho, deixar para trás a sala de aula, os alunos, os colegas e a Escola que eu tanto sonhei em estar. Guardei num baú aberto as minhas inquietações pedagógicas, minhas dúvidas, meus sonhos de mudar a educação do meu país. 

Eu cheguei com o pé direito, livre dos medos que me perseguiam, agarrada na esperança do novo e das oportunidades que viriam ao nosso encontro. E do vazio a gente se construiu outra vez: fizemos incontáveis refeições em caixas de papelão, sentamos no chão por semanas, dormimos em colchão por quase um mês. Ninguém titubeou! Ninguém ficou em dúvida se era mesmo a coisa certa! Éramos nós cinco, juntos! Prontos para começar do zero uma nova vida. Já era um novo ano pra mim...

E chegou o sofá, uma mesa com cadeiras, cama, tv, amigos! Reerguemos nossa casa e começamos a viver uma nova vida. Conhecemos novas pessoas que hoje já chamamos de amigos, novos lugares, outros costumes; aprendemos uma nova língua, outro jeito de entender o clima e de se adaptar a ele.

Pois bem, minha hora da virada já foi há seis meses atrás! 
Mas sempre é bom comemorar, tomar um champagne, brindar e desejar que 2015 seja (continue a ser) o grande ano!

Alguns medem como um grande ano se mudou de emprego ou se teve uma promoção no trabalho, se a poupança engordou, se os rendimentos ultrapassaram a meta, se conseguiu comprar a casa própria, se trocou de carro, se viajou para vários lugares, se conheceu novos restaurantes etc. Outros medem a grandeza do seu ano com outro tipo de balança ou fita métrica, como nós, que não fomos promovidos, que deixamos de andar de carro, que aprendemos a viver com menos coisas, que compramos apenas as roupas da estação, que passamos um tempo grande do dia dentro de casa porque lá fora está quase impossível de ficar, que vimos pela primeira vez a neve, que conhecemos muita gente nova e solidária, que não ficamos doentes desde que chegamos, que experimentamos vinhos e cervejas de várias marcas, que nos aproximamos dos nossos filhos, que estamos aprendendo uma nova língua, que temos um quintal enorme com uma árvore linda!


Diante da nossa forma de ver e viver o mundo, nós tivemos um grande ano! E desejamos que mais pessoas possam ter a mesma oportunidade de revirar a vida do avesso e buscar o novo em velhas formas de ser.

Feliz 2015! Que ele seja honestamente feliz!