domingo, 20 de outubro de 2013

O Zero a esquerda e a criança pequena

                Essa história é sobre a incrível descoberta das crianças de um 3º ano sobre o "zero a esquerda". As crianças são os meus alunos, e o zero a esquerda veio da nossa pesquisa sobre como fazer um jardim mandala. Isso mesmo, tudo começou por causa de uma flor!

               
               Em uma das lições de casa, a turma pesquisou sobre flores possíveis de se plantar em nosso jardim e preencheram uma ficha técnica, a qual continha o nome popular da flor, nome científico, altura, luminosidade e outros cuidados. Tiveram como referência uma ficha anterior que estudamos e depois, pesquisaram flores que havíamos selecionado coletivamente. Em seguida, cada um escolheu duas flores que gostava muito e preenchia a ficha.  


           

              Essas fichas foram recolhidas e em uma conversa posterior, levantamos novamente os critérios necessários para a escolha das flores do jardim mandala.

Critérios de seleção das flores:
  Ter altura entre 10 a 30 centímetros
Gostar de luz plena ou meia sombra  
Gostar de pouca água
  Florir durante o ano todo
                

             A partir disso, começamos a conversar sobre a primeira ficha técnica trazida por um colega. Foi aí que o assunto prosperou:


Professora: A flor se chama Borboletinha e tem 0,3 metros de altura. O que vocês acham? Ela atende aos critérios? 0,3 metros é uma boa altura? Quanto é 0,3 metros?
                As crianças mostravam o tamanho usando as mãos, levantando suas hipóteses.

Aluna: Olha, eu não sei que tamanho é, mas sei que tem menos de um metro!

Professora: Por que é menos? Como você sabe?
Aluna: Começa com zero!

Professora: Mas quanto tem um metro?
Aluno: 100 centímetros!

Professora: Vocês concordam?
Todos: Sim!

Professora: Bem, então antes de qualquer coisa, vamos apurar essa informação!
 
              Iniciamos o trabalho de montar uma fita métrica. Utilizei como referência a proposta do livro didático Matemática Paratodos (IMENES, Luis Márcio. Matemática Paratodos: 2ª série. São Paulo: Scipione, 2004), a qual tinha como objetivo colar as tiras da fita métrica para depois contar os centímetros (10 cm a cada tira). Logo que as fitas ficaram prontas, automaticamente, começaram a medir portas, mesas, colegas, etc.
 

                Depois, voltamos a conversar:

Professora: Essa fita tem quantos centímetros?
Todos: 150 centímetros!

Aluno: Tem mais de um metro. Ela tem um metro e meio!
Professora: E como escrevemos isso usando números?

Aluno: 1,5

Professora (anotando na lousa): Tudo bem! O 1 representa o quê?
Todos: 1 metro

Professora: E o 5?
Aluno: Metade de 1 metro. 50 centímetros!

Professora: Vocês concordam?
Todos: Sim! - olhando e dobrando a fita métrica que fizeram.

Professora: Se 1,5 é um metro e meio, quanto será se eu tirar o 1 e deixar assim? - escreve 0,5 na lousa.
Todos: 50 centímetros

Aluna: Peraí! Se 0,5 é 50 centímetros, como a gente escreve 5 centímetros?
Professora: E aí, o que você acham?

                Nesse momento a turma começou a levantar suas hipóteses e eu anotava tudo na lousa. Eles falaram 50, 15, apenas 5... mas não estavam satisfeitos. Até que um aluno comentou:

Aluno: Ah, deve ser 0,000...5!
Professora: Como assim? Me explique melhor?

Outro aluno: É! Lembra daquele texto da menor semente do mundo, da orquídea, que era 0,0000... deve ser assim.
Aluno: 0,005... Não! 0,05.

Professora: Vocês concordam com ele?
Todos: Sim!

Aluno: Se era 0,5 e o 5 valia 50. Agora 0,05 tem o zero e ficou 5! 5 centímetros!
Aluno: Igual as casas de dezena e unidade.

Professora: E quanto vale 0,3 metros da flor Borboletinha?
Todos: 30 centímetros!

Professora: E quanto é 0,03 metros?
Todos: 3 centímetros!

Professora: Tem uma outra coisa que nós usamos sempre, que também tem essa mesma representação. Alguém sabe?
Aluna: Moeda, dinheiro, centavos! 0,50 centavos ou 0,05 centavos. 
                   
                   Dessa forma encerramos nossa primeira conversa sobre as medidas e o uso do zero e da vírgula. As crianças ainda registraram essa descoberta com desenho e escrita. Prosseguimos com o trabalho de seleção das flores, das medidas do nosso jardim... outras histórias e tantas novas descobertas.