terça-feira, 19 de maio de 2015

Quando decidimos viver longe


Desde que nos conhecemos ele já havia escolhido viver longe. Saiu de casa e ficou distante da sua família mesmo sendo o único filho que aquele casal decidiu ter. Arrumou as malas para trabalhar num lugar que lhe daria melhores condições para ser aquilo que gostaria de ser. Ele não imaginava que, no meio desse novo caminho, encontraria alguém no elevador do seu prédio que mudaria todos seus planos.

Eu nunca havia escolhido viver longe... Consegui fazer uma faculdade que ficava apenas 40 minutos da casa onde nasci e cresci, onde sempre que quisesse podia voltar para sentir o quentinho do abraço dos meus pais.  

Mas desde o dia que encontrei aquela pessoa no elevador do meu prédio, os planos da "minha vidinha" de menina do interior mudaram muito.

Ele sempre soube se despedir e foram tantas as despedidas. Ele sempre carregou tanta coragem na bagagem, vai longe e volta. Encontra, aproveita cada minuto, despede-se e sente saudades. Ele sempre viveu sentindo saudades. E eu? Nem imaginava o que era isso. 

Até que um dia decidimos viver longe da nossa família. Para ele seria aumentar a distância, para mim, seria ficar longe de verdade. Não me lembro qual foi exatamente o dia em que tomamos essa decisão, mas tenho quase certeza de que foi naquele encontro no elevador.

Arrumamos as malas com muita esperança de viver uma vida melhor, de conquistar novos desafios e alcançar nossos objetivos. Tentei tirar um pouco da coragem da bagagem que ele já havia arrumado e coloquei disfarçadamente nas minhas coisas. Distribui um pouco dela na mala das crianças, assim todos estariam fortes para seguir em frente nesta nova fase longe daqueles que sempre estiveram tão perto.

Quando decidimos viver longe assumimos o compromisso de sermos felizes e que cada conquista precisa compensar a falta absurda que sentimos da nossa família. Quando resolvemos ficar distantes, assinamos o contrato de fortalecermos uns aos outros, de unir nossas forças e dessa forma, vamos preenchendo nossa bagagem de mais coragem. 

Eu demorei 32 anos para fazer isso e confesso que sou a mais novata no quesito "lidar com a saudade e com a distância". Ele e as crianças estão melhores que eu, não tenho dúvida! 

E sabe o que acho mais importante nisso tudo? É que viver longe não significa que "sofremos" de falta de amor ou de desapego às nossas famílias. Quando moramos distantes da família nós aprendemos a amar de verdade! A amar sem pedir nada em troca, a dar o devido valor, a reconhecer cada coisinha que eles fizeram (e fazem ainda) por nós. Cada segundo juntos é precioso. Cada abraço ou beijo de boa noite é sentido de todo coração.

Quando decidimos viver longe o tempo passa contado, dia a dia, minuto a minuto. "Quando vamos nos ver outra vez?". Estamos sempre nos preparando para o reencontro e para outra despedida. E disso se faz a vida!

Desejo que meus filhos aprendam que viver longe é estar ainda mais perto de amar de verdade. Pagamos um preço alto por essa distância, por isso temos a obrigação de viver bem e felizes. E que  meus filhos saibam que cada reencontro é único e merece ser vivido com todo coração.


Para meu marido Luiz, 
com quem aprendo a ter coragem
de viver longe!

Para minha família,
por quem morro de 
saudades!


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