sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Carta para o amigo que não verei mais


Não sei muito bem como começar essa carta, talvez porque eu não saiba o que realmente é uma carta e também nem saiba como escrever. Sim, ainda não sei escrever uma frase se quer porque na escola andam nos ensinando letras e sons de algumas palavras. A nossa professora, você se lembra dela ainda? Então, ela não conseguiu sequer arrumar uma tradução para a palavra saudade! Muito menos me ajudar a colocar em um monte de letras esse negócio esquisito que estou sentindo depois da sua despedida. Acho que você não conhece essa palavra também... na Coréia existe isso, saudade?
No Brasil nós sentimos muita saudades... saudades da família, da comida, da praia... e eu, agora sinto saudades de você. 
É que você foi o primeiro amigo "de verdade" que eu fiz aqui. Digo de verdade, pois você é da minha idade, da minha escola, da minha sala de aula e também do meu quintal. Isso não lhe parece perfeito para um amigo de verdade? Sim, esse era você aqui. 
Sei que a culpa não foi sua. Nem minha. Acho que essa ideia maluca dos nossos pais em sairem pelo mundo procurando um jeito novo e melhor para se viver foi o motivo de tudo isso.
Primeiro eles escolheram viver longe das nossas famílias e nós sentimos a tal saudade. Depois, quando a saudade já ficou mais mansa, que a gente conhece gente nova e legal, eles decidem voltar para onde nós nascemos (ou para outra cidade). E aí a gente sente saudade outra vez, daqueles que deixamos naquele velho lugar.
Você acha bom viver assim? Você acha bom chegar em um lugar sozinho, sem amigos e depois que os encontra, precisa se despedir outra vez?
Não sei se acho bom ou ruim. Agora, aos 5 anos, não sei pensar sobre isso muito bem. Não sei sequer dizer o que sinto aqui dentro de mim quando entrei na nossa sala de aula hoje e você não estava mais lá. Era um aperto dolorido, que deixou minha barriga gelada, minha cabeça confusa... com quem eu iria brincar e sentar junto? 
Sabe Donny, as escolhas que nossos pais fizeram talvez sejam incompreendidas agora, mas depois pode ser que algo bom aconteça para nós. Teremos amigos espalhados pelo mundo! 
Outra coisa meu amigo, nós aproveitamos muito cada minutinho que passamos juntos. Rimos, corremos pelo barranco, nos acidentamos, choramos, pedimos desculpas, nos entendemos sem ao menos saber falar a mesma língua. Porque a amizade é algo que não precisa de muitas palavras! A gente entende com o olhar, com a simples companhia.
Meu quintal vai ficar vazio por algum tempo. E esse tempo vai passar também e vai ajudar a curar esse aperto que eu sinto no meu peito. 
Se alguém na Coréia te perguntar o que significa SAUDADE, diga que é ver a casa do grande amigo vazia, o quintal sem companhia e seu "cub" sem a mochila. Isso é saudade!

Boa sorte amigão!
Nos veremos via Skype, FaceTime, Coréia, EUA ou Brasil.
Somos do mundo e com certeza nos encontraremos por aí!
Lucas Leiria
(Se pudesse usar as palavras hoje!)

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Making off do episódio...

Ontem, na mesa do jantar, Lucas preocupado pergunta:
- Mãe, quantos os dias o Donny vai ficar longe? - e mostra todos os dedos de sua mão, - tudo isso de dias, mãe?!
Eu respondo:
- Ichi filho, vai ser muito mais que isso. Será como a Clara e a Betina, faz tempo que elas foram e não voltaram, né?! Mas deixe o João, seu irmão mais velho e experiente te ajudar com esse assunto. Ele já viveu essa situação algumas vezes. Diga algo para o seu irmão, João.
- Eu acho que eu não passei por isso, mãe - diz o João - Os amigos que eu deixei no Brasil eu sei que posso encontrar outra vez quando a gente voltar. Mas o Lucas, .... , (pausa, longa, doída e já pressentindo o que estava por vir) ... Lucas não vai ver mais o Donny PARA SEMPRE.

Ok! Obrigada João pela sua super ajuda e agora, vamos ver se a Helena terá algo a acrescentar!!!!!

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