Cresci numa família simples do interior da São Paulo. Monte Mor nunca apareceu em nenhum mapa que estudávamos na escola pública do bairro. Minha mãe, professora primária da escola estadual e meu pai, bancário. Sempre tivemos uma vida normal, dentro dos básicos padrões da década de 80 e 90. Não falávamos muito da situação política da época, mas brincávamos na rua o dia todo. Não tínhamos os brinquedos mais cobiçados, mas também não faziam falta porque andávamos de bicicleta, fazíamos piquenique na calçada dos vizinhos e construíamos barracas no terreno baldio da rua.
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Às vezes, o nosso desejo nos finais de semana, era ir para a cidade vizinha passear no shopping e andar de escada rolante. Quem sabe até ganhar um lanchinho no MacDonald`s! E nas férias de verão sempre viajávamos para as praias do Litoral norte e sul de São Paulo, com aquela Belina branca que mais parecia uma ambulância. Assim crescemos e aprendemos sobre a vida e o mundo que fazíamos parte.
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"Mãe, mas esse foi o lugar mais longe que vocês já foram?", perguntávamos indignados sempre que essa conversa surgia. E com o maior orgulho, ela dizia que sim.
Porém, o tempo passa e os filhos começam a traçar seus planos e a desenhar seus próprios sonhos para a vida.
Eis que eu decidi tentar o vestibular em uma faculdade em Curitiba. Trabalhei, guardei dinheiro o ano todo, estudei e fui. Não, não estava sozinha! Meu pai e minha mãe me levaram de carro para lá. Queriam saber onde eu ficaria, se era seguro deixar a caçula de 18 anos sozinha em um lugar desconhecido. Agora sim, de carona com meus planos, meus pais puderam conhecer uma nova cidade e em outro estado. Mas, por sorte ou destino, não passei no vestibular do Paraná!
E o tempo, que passa desenfreado como enxurrada em dia de tempestade, fez com que novos sonhos e distâncias aparecessem para empurrar essa família simples do interior.
Foi quando eu decidi viver longe daqueles que sempre estiveram tão perto... Só que dessa vez a incerteza tomou conta de mim, sabia que aquele casal caipira não decolaria neste tão grandioso sonho que construí ao lado do meu marido. Pegar um avião? Jamais fariam isso!
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E para onde os sonhos dos filhos nos levam?! Os meus sonhos carregaram meus pais e minha irmã para minha nova morada aqui no norte da América. Eles chegaram na quinta-feira mais ensolarada da primavera e fizeram dos meus dias frios os mais quentinhos e felizes que tive aqui.
Sabe quando tudo parece mentira? Sabe quando tudo encanta e faz os olhos brilharem de tanta beleza? Sabe quando o tempo para e suspende as horas? Aquele tempo que corre apressado deu-nos o presente de viver cada dia (dos 10 que nos foram reservados) com toda intensidade, amor e gratidão.
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De verdade, sabe o que eu quero? Quero que os sonhos continuem nos surpreendendo por toda vida. Que eu possa continuar carregando meus pais de carona comigo enquanto estivermos juntos. E que nossos filhos nos levem para lugares e vivências que ultrapassam a nossa pequena e simples capacidade de sonhar. Que caibamos em seus planos futuros nem que seja apenas para conferir se estão felizes e seguros em suas escolhas.
Quando olhamos de perto (por Aline Pinheiro)
Boston / Primavera 2015
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Fotografia de Aline Pinheiro
alinepinheiro17@gmail.com
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