sexta-feira, 24 de agosto de 2012

DA ESCOLA DO SÍTIO PARA A SIBÉRIA: uma viagem através da leitura e da pesquisa.


                Eu acredito que a aprendizagem não se dá só e, simplesmente, ao ouvir as experiências ou a “sabedoria” dos mais velhos, neste caso, o professor. Nos dias de hoje, as crianças trazem vivências que muitas vezes eu, adulta, não tive. São outros tempos, novas tecnologias, outras formas de ser e de viver.
                Na escola a prioridade é ouvir as crianças. Suas falas nos dão pistas dos caminhos que percorrem para aprender, de como estão construindo seu pensamento e as dúvidas que querem perseguir, os mistérios que querem desvendar.
                Foi assim que a viagem para a Sibéria começou, graças a essa “presença pedagógica” da professora-auxiliar Flávia, que numa roda de leitores, percebeu que a turma do 4º ano se interessava em saber mais sobre essa região desconhecida. Em roda, enquanto as crianças comentavam suas leituras da semana (livros escolhidos na biblioteca) e liam os trechos que acharam mais interessantes, uma aluna falou de um curioso animal (criceto anão) da Sibéria. Em seguida, o colega questionou: “onde fica a Sibéria?”. Engraçado: eles não quiseram saber mais sobre o bicho e sim, sobre o lugar de onde ele vinha.

                E como uma leitura leva a outra, uma das crianças estava com o livro “Volta ao mundo em 80 páginas”, o qual trazia um trecho sobre o tamanho da Sibéria, fato que iluminou ainda mais os pequenos olhos dessa turma do 4º ano.
                Para responder a essa e outras perguntas que surgiram, em grupos organizados, foram pesquisar na Internet informações sobre a Sibéria. Enquanto uns pesquisavam sobre a localização, outros procuravam sobre o seu tamanho, suas cidades e até mesmo sobre o animal de destaque dessa região.
                Os grupos escolheram os sites que acharam mais interessantes, anotaram algumas informações relevantes e selecionaram imagens da Sibéria. Mas como fazer essas informações se tornarem conhecimento significativo? Hoje, o que mais encontramos são informações de todos os tipos e procedências. Ler, escolher, aprofundar, duvidar... são habilidades que precisamos ajudar as nossas crianças de hoje, a desenvolver. Foi o que percebi nesse primeiro movimento da pesquisa sobre a Sibéria.
                A turma apresentou o trabalho na roda da conversa do outro dia, no qual eu já estava presente, pois estava afastada da escola por motivo de saúde. Eles liam as informações que estavam anotadas no caderno e pouca coisa fazia sentido quando falavam. Havia termos desconhecidos, palavras estranhas e coisas que falavam mas não sabiam o que era. Como transformar tudo isso em aprendizagem?
                Voltamos à Internet e aprofundamos nossos estudos. Questionamos algumas informações, conflitamos as fontes, comparamos a representação dos mapas. Saímos do superficial e tentamos ir costurando significados às palavras. Montamos um “Jornal-Mural”, pois o grupo decidiu compartilhar a pesquisa com outras turmas da escola e esse material seria carregado para as salas a cada apresentação.
                Quando digo que “pesquisamos” é porque eu também me incluo como aprendiz: eu não sabia nada sobre a Sibéria. Uma cidade? Um país? Um Estado? Não, a Sibéria é uma região da Rússia e ocupa 58% da sua vasta proporção. Lá na Sibéria fica a cidade mais fria do mundo: Yakutsk, com temperatura média de 50 graus Celsius negativos. É de dar frio só de saber!!!! Sair do lugar daquele que ensina para o lugar daquele que também aprende, é um movimento desafiador e acabamos nos tornando companheiros das crianças nesse processo de aprendizagem.
                Pensar na construção de um mural com as informações da pesquisa serviu para refletirem sobre a importância visual e didática desse material. Não basta colar folhas cheias de palavras soltas, é preciso organizar o assunto, escolher imagens que complementem o tema tratado. Eles iriam apresentar para crianças menores e estas precisavam de outras referências para entender que lugar é esse de onde falávamos.
                Duas alunas ficaram responsáveis em escrever o convite que seria entregue para as turmas, e uma delas (que acaba de chegar a fase final da alfabetização) ficou responsável em organizar a agenda com os dias e os horários para as apresentações. Tarefa importante que encheu de orgulho a aluna, a qual escreveu tudo com muito cuidado para não esquecermos de nada. Escrita significativa! 
                É uma característica forte dessa turma do 4º ano (e tenho percebido que das crianças em geral) não conseguir estender a atenção por muito tempo em uma única tarefa. “Vamos terminar rápido para fazer outra coisa”, esse é o lema. As coisas acabam perdendo a graça muito rápido, elas começam a dispersar e a fazer de qualquer jeito. Por hoje, é hora de parar.
                No dia seguinte já tínhamos muitas apresentações, então as crianças teriam pouco tempo para ensaiar. Os grupos se reuniram, dividiram suas partes e pensaram numa sequência para as falas. Discutimos essas ideias no grande grupo e definimos como seria a apresentação. Cada um ensaiou a sua fala e conversamos sobre a melhor forma de falar aquilo que estava escrito, um jeito que não ficasse chato de ouvir, que despertasse o interesse das outras turmas. Era importante pensar que aquele mural escrito seria um apoio para a fala! Algumas crianças conseguem fazer esse movimento com tranquilidade, já outras, se sentem envergonhadas e acabam lendo. 
                   E lá vamos nós! De sala em sala, de apresentação em apresentação, aquele conhecimento ia incorporando nos alunos que, na última sala, já falavam com segurança e propriedade. Pois é... foi assim que todas as informações antes desconhecidas e estranhas, foram “impressas” em cada criança da turma, com sentido e significado. Compartilhar aquilo que aprendemos, faz com que aprendamos ainda mais aquilo que achamos estar ensinando.
Apresentação na sala do 6º ano. Contamos com a preciosa ajuda da Profa. Ludmila de Geografia.

Na turma do 1º ano, tiveram que pensar um jeito diferente de apresentar para os menores.


                Mas a viagem ainda não termina por aqui. O processo de leitura para estudar algum assunto, nos leva a escrever como esse assunto ressoou dentro de nós, ou seja, como reconstruímos o conhecimento.
                A proposta seguinte seria escrever um texto contendo as informações do “Jornal-mural”, que pudesse ficar afixado nas salas onde fizemos as apresentações. Dessa forma, as turmas poderiam recorrer a esse material para consultar ou saber mais sobre a Sibéria.
 
 

                Em duplas, por agrupamentos produtivos, as crianças escreveram seus textos colocando um pouco de si no conhecimento construído sobre a Sibéria. Confrontaram ideias, saberes sobre a organização textual e sobre a escrita correta das palavras. Escreveram revisando, revisaram escrevendo o próprio texto ou quando a escrita era do colega. Consultaram o mural, retomaram informações, personalizaram os textos dando marcas de um estilo pessoal, colocando em jogo o repertório que possuem sobre os textos informativos. Recursos como “você sabia?”, “já imaginou?” e outras perguntas para atrair o leitor, também foram feitas.
                Agora, era só revisar e digitar. Mas só? Não! Mais um longo trabalho. Revisão é aprendizagem! Não é obrigação só do professor!!! As crianças precisam aprender a revisar o próprio texto ou o texto dos colegas. É preciso dar suporte para que isso aconteça: listar, problematizar, explicitar, mudar, apagar, reescrever. Para isso, fizemos uma pauta de revisão coletiva: na lousa, eu anotava o que a turma achava importante ter no texto. Pontuação, escrita correta das palavras, organização do texto e das ideias, título etc. 
                As duplas receberam um papel de revisão para ser preenchido e trocaram os textos. Debruçaram-se com atenção nas produções dos colegas procurando pontos positivos e coisas para melhorar. Depois preencheram o papel com dicas, palavras certas e erradas, elogios entre outras coisas. Foi muito interessante ver o movimento das duplas durante a revisão: no começo dizem não entender a letra do amigo, mas entendem. Depois acham tudo ótimo e perfeito e nós, professores, enchemos de perguntas para fazer com que vejam o não visto. Aí percebem! Conseguem enxergar no texto do outro, aquilo que fazem na própria escrita. E outra habilidade infantil que me encanta, é a aceitação dessa revisão dos colegas e o respeito por aquilo que ele assinalou como “ah, você deve melhorar!”.
                Destrocaram as produções, leram as observações dos colegas e revisaram aquilo que precisava ser trocado ou melhorado. Hora de passar a limpo no computador! Essa parte a turma gosta demais. O computador nesse momento final da revisão é um ótimo instrumento, pois as crianças colocam em jogo o que sabem sobre a escrita de algumas palavras, que passaram despercebidas quando estavam no papel. Nesse momento do trabalho, também tiveram que pensar na organização desse texto digitado e no tamanho da letra, pois ficará afixado na parede.
 
                Material impresso. Agora é só distribuir para as turmas da escola!
                Próximo passo será fazer uma roda para avaliarmos o trabalho que desenvolveram. O que sabíamos sobre a Sibéria antes desse estudo? O que aprendemos? Como aprendemos? Qual momento foi mais importante para o trabalho?
                E assim termina a viagem, quero dizer, essa viagem!
A turma do 4º ano, com seus textos finais, antes de distribuir para as outras salas.

 
Bibliografia

LERNER, Délia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre, Artmed, 2002.

MASON, Antony. Volta ao mundo em 80 páginas. São Paulo: Callis, 2006.

MORAIS, Artur G. Ortografia: ensinar e aprender. São Paulo: Ática, 2009.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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