sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Uma vida no frio (Parte 2) - porque frio mesmo é em fevereiro!


Você imaginava que aquilo que fazia em dezembro era frio?! Eu também achava! Frio, frio mesmo e de verdade, com tudo tapado de neve acontece em fevereiro! É nessa época que o bicho pega nessas terras geladas do norte do mundo.

Viver num lugar frio como este, faz a gente mudar os hábitos e jeito de ver a vida lá fora. Aqui dentro da nossa cápsula quentinha cultivamos a convivência intensa em família, principalmente nos dias de tempestade de neve, quando não temos para onde ir a não ser ao banheiro ou para os quartos que ficam na parte de cima da casa. 

Vamos começar pelas tempestades de neve. Até elas chegarem não sabíamos muito bem sobre o que se tratava. Começa com os sinais de alerta no aplicativo do tempo no celular. Depois o burburinho pelos grupos de mensagem no whatsapp. De repente, o governador já está na TV pedindo para as pessoas ficarem em suas casas durante os dias em que a Blizzard estivesse pairando pelos ares daqui. Logo em seguida aparece o prefeito anunciando o perigo do fenômeno que estava prestes a deixar a cidade embaixo de muita neve. Os supermercados começaram a ficar lotados, filas e filas no caixa, frutas e produtos esgotados nas prateleiras. Meu Deus! Quero voltar pro Brasil!!!!!!

Foi assim, nessa tensão que presenciamos nossa primeira tempestade de neve e teve logo que ser uma nevasca histórica! Peraí, calma! A gente não precisa de nada tão especial assim! Pode ser uma nevasquinha qualquer!!! Mas não, fomos presenteados por uma silenciosa blizzard que passou quieta pela nossa casa e nos deu um enorme susto quando olhamos pela janela de manhã. Estávamos enterrados na neve e assim continuamos desde então.

Mas aqui ninguém fica preso em casa, se sentindo num filme de terror, sozinho, sem vizinhos, sem gente na rua! Não, eu já teria infartado! Aqui, durante a tempestade, por toda madrugada, ouvíamos máquinas trabalhando e pessoas que vinham tirar a neve da nossa porta. Havia vida lá fora! Pessoas autorizadas a trabalhar na rua enquanto a tempestade de neve caía.

Depois de dois longos dias presos em casa, a vida voltou a funcionar lá fora: as pessoas desenterraram seus carros, as crianças foram se enfiar naqueles montes de neve... nós também fomos, claro!

Na maior alegria vamos preparar as crianças para sair na neve. Simples?! Não!!!! Quase uma missão impossível! Começamos sempre dando uma ajuda pro mais velho que já consegue colocar seu equipamento sozinho: por cima da roupa que está em casa, ele coloca um agasalho de moletom, uma calça de neve por cima da calça de abrigo. Casaco. Luvas. Gorro. Bota. Pronto! Agora fica perto da porta tomando um vento pra não morrer de calor. Próximo: o do meio. Tudo igual, mas ele não fica parado. Temos que correr atrás: bota essa blusa, estica esses dedos direito pra encaixar na luva, volta aqui e põe esse gorro pelo amor de Deus! Eu já estou suando, esbaforida e querendo que essa brincadeira na neve acabe antes mesmo de começar! Falta alguém???? Claro, a filha pequena que detesta luva, gorro, casaco... aí começa outra luta! Vira e me dá o braço pra colocar essa roupa! Pare quieta, menina! Não tire a luva que eu acabei de vestir!!!! Ahhhhhhh!

Uma hora depois: todos prontos na porta sem conseguir andar direito. No primeiro passo lá fora a Helena já cai no chão e não consegue levantar de tanta roupa! A neve já toma conta de todo o seu corpinho, mas ela não desanima! O frio parece dar socos na nossa cara. As crianças brincam felizes nos montes de neve e se enfiam naquela coisa branca que bate na barriga deles. Literalmente afundados na neve!

Eu já não aguentava mais o frio! De repente, um choro! Meu Deus! Que foi Lucas?! E o menino urrava no meio daquele monte de neve, onde só víamos sua cabecinha com aquele gorro azul. Achei que um bicho estivesse picando seu pé, mas que bicho estaria ali no meio daquele neve toda?

O pai tirou o menino correndo daquela montanha de neve e quando vimos, percebemos que ele havia perdido uma das suas botas e foi sentir alguma coisa depois de uns minutos (seu pé já deveria estar dormente). Saímos correndo com ele no colo e, dentro de casa, colocamos o pé embaixo da água quente. Mas ele continuava a gritar e dizia que agora era o outro pé. Só que alí tinha uma bota! Fui dar uma espiada e vi que dentro da bota tinha muita neve! Tira tudo e põe o outro pé na torneira também.

Volta todo mundo pra dentro de casa!
Tanto trabalho pra colocar roupa... para 5 minutos de tolerância no frio e na neve!
Depois o pai saiu para procurar onde estava o outro pé da bota!

Com tanta neve acumulada, ficou ainda mais complicado buscar o João da escola a pé e empurrando um carrinho com duas crianças dentro. Infelizmente o sonho de viver sem carro teve que chegar ao fim... e confesso que a vida com carro é um sonho também!!!!! Mas, aqui na terra gelada, quem tem um carro tem muito trabalho a fazer. Quando cai esse monte de neve é preciso sair do quentinho de sua casa para remover todo aquele negócio frio que está em cima, embaixo, do lado... do seu carro. Essa tarefa mais pesada ficou para o marido que é mais forte e tolera muito mais que eu esse frio da desgraça. Após mais uma nevasca - a primeira com o tal carro - o Luiz sai todo animado para "rapar" (termo utilizado pelos brasileiros que trabalham aqui) sua primeira neve. Ele passou um tempão lá fora, aguentando o vento na cara, com a mão dormente de tanto frio e quando estava quase no meio da tal "raspação" de neve do carro, aparece nossa vizinha com uma pá. E para a supresa do meu marido ela diz: "Opa, acho que você se enganou! Esse carro que você está limpando é meu!". E lá se foi então, meu marido, limpar o carro o certo. 

Pois é minha gente, uma vida no frio não é moleza não. É duro duro que nem gelo. E frio. E branco. Parece que esse mês de fevereiro tem uns quarenta e tantos dias... não passa nunca. Quero ver a hora que esse monte de neve derreter... acho que voltaremos de enxurrada para o Brasil!


Esses dias dentro de casa e só cuidando dessa turminha, fez com que eu buscasse outras formas de extrapolar o que passa na minha cabeça. Então, fiz um video com uma música própria para mostrar um pouco da nossa vida no frio.








5 comentários:

  1. Oi Lívia, dá para sentir o frio, a dor do pezinho do Lucas e o conforto da água quente com o seu texto. A música retratando o seu olhar para essa vivencia. Saudades! Bjs para toda família.

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    1. Obrigada Sonia! Que bom que as minhas palavras foram carregadas desse sentimento que o frio tem nos deixado! Um beijão, saudades!

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  2. Obrigada Karla, volte sempre que quiser! Vou lá espiar o seu também!

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