quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Como medir um grande ano?


Parece um tanto estranho, mas não sinto aquela velha vibração da chegada do novo ano. Deve ser porque estamos longe e as comemorações familiares perdem um pouco seu sentido quando estamos distantes. Só que não deve ser só isso! Minha virada de ano já foi em julho e eu sei bem o motivo...

Um grande ano começa quando abrimos mãos de coisas velhas (ou nem tanto assim), quando arrumamos o armário, nos desfazemos de móveis que não nos agradam mais, ou quando doamos os sapatos que quase nunca usamos. Um grande ano começa quando renovamos o contrato com a gente mesmo, nos damos uma nova chance e decidimos mudar pra valer.

Meu ano novo começou quando esvaziei aos poucos a minha casa e, com um aperto no peito, vi os olhares dos meus filhos para o berço que ia... para as cadeirinhas de passeio, a cozinha, o fogão... tudo foi embora. Esvaziamos nosso coração de tudo que nos incomodava ou nos deixava triste. A cada coisa que ia, guardávamos uma moeda na caixinha da esperança que conseguiríamos em dobro.

Foi novo pra mim abrir mão do meu trabalho, deixar para trás a sala de aula, os alunos, os colegas e a Escola que eu tanto sonhei em estar. Guardei num baú aberto as minhas inquietações pedagógicas, minhas dúvidas, meus sonhos de mudar a educação do meu país. 

Eu cheguei com o pé direito, livre dos medos que me perseguiam, agarrada na esperança do novo e das oportunidades que viriam ao nosso encontro. E do vazio a gente se construiu outra vez: fizemos incontáveis refeições em caixas de papelão, sentamos no chão por semanas, dormimos em colchão por quase um mês. Ninguém titubeou! Ninguém ficou em dúvida se era mesmo a coisa certa! Éramos nós cinco, juntos! Prontos para começar do zero uma nova vida. Já era um novo ano pra mim...

E chegou o sofá, uma mesa com cadeiras, cama, tv, amigos! Reerguemos nossa casa e começamos a viver uma nova vida. Conhecemos novas pessoas que hoje já chamamos de amigos, novos lugares, outros costumes; aprendemos uma nova língua, outro jeito de entender o clima e de se adaptar a ele.

Pois bem, minha hora da virada já foi há seis meses atrás! 
Mas sempre é bom comemorar, tomar um champagne, brindar e desejar que 2015 seja (continue a ser) o grande ano!

Alguns medem como um grande ano se mudou de emprego ou se teve uma promoção no trabalho, se a poupança engordou, se os rendimentos ultrapassaram a meta, se conseguiu comprar a casa própria, se trocou de carro, se viajou para vários lugares, se conheceu novos restaurantes etc. Outros medem a grandeza do seu ano com outro tipo de balança ou fita métrica, como nós, que não fomos promovidos, que deixamos de andar de carro, que aprendemos a viver com menos coisas, que compramos apenas as roupas da estação, que passamos um tempo grande do dia dentro de casa porque lá fora está quase impossível de ficar, que vimos pela primeira vez a neve, que conhecemos muita gente nova e solidária, que não ficamos doentes desde que chegamos, que experimentamos vinhos e cervejas de várias marcas, que nos aproximamos dos nossos filhos, que estamos aprendendo uma nova língua, que temos um quintal enorme com uma árvore linda!


Diante da nossa forma de ver e viver o mundo, nós tivemos um grande ano! E desejamos que mais pessoas possam ter a mesma oportunidade de revirar a vida do avesso e buscar o novo em velhas formas de ser.

Feliz 2015! Que ele seja honestamente feliz!

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