sábado, 9 de março de 2013

PAPAI NOEL? COELHINHO DA PÁSCOA? NÃO, O PROBLEMA AGORA É A FADA DO DENTE!

Como se já não bastasse as histórias do bom velhinho, as armadilhas e ninhos para o senhor coelho, agora tem mais essa, a tal da Fada dos dentes. Na minha infância os dentes caíam e iam para o telhado. Não vinha fada alguma me trazer dinheiro! Está certo, a frase sempre se repete: o que não fazemos pelos filhos? Serei eu a mãe destruidora de sonhos e do imaginário do João? Claro que não! Então, vamos lá alimentar mais uma história que, pra variar, tem dinheiro (e consumo!) envolvido na trama.
 
O meu filho mais velho já está com cinco anos e completa seis logo logo. Por esse motivo, sua dentição provisória vai dando adeus à sua boquinha. É dessa forma que o tempo vai passando para as mães. Vai passando de um jeito avassalador levando dentes, tênis novos, roupas, mudando o tamanho da fralda, os nomes dos heróis favoritos, as brincadeiras e tantas outras coisas. O tempo, para as mães, passa dolorido e materializado em medidas, aniversários, peso, objetos e cabelos brancos... muitos cabelos brancos. Ou, perda de cabelo, no caso do pai.
Já é o segundo dente dele que cai e nós ainda não aprendemos com a lição do primeiro. Porque o dente fica mole e não tem dia e hora marcada para cair. Ele cai quando quer ou quando alguma professora corajosa da escola encasqueta de tirar. Aí entra o problema: a grana. Hoje em dia ninguém tem dinheiro vivo na carteira, usamos o cartão para tudo! E quando o dente decide cair: não tem nenhum trocado! Por isso, quando o primeiro dente decidiu ir embora, tínhamos apenas uma nota de dois reais em casa e teve que ser essa quantia. “Fada do dente mão-de-vaca!”, deve ter pensado meu filho quando acordou e viu aquela merreca.
Pense comigo: fada do dente deveria trazer um “vale dentista” pra uma limpeza, ou um plano odontológico, uma escova nova, sei lá, algo que incentivasse as crianças a cuidarem dos seus dentes. Sabe o que meu filho pensa em comprar com a grana? Lanche do Macdonald’s. E outras crianças também devem gastar seus trocadinhos com guloseimas.
Para o segundo dente, o João criou uma grande expectativa e me disse: “Mãe, se eu ganhei só dois reais no primeiro, com certeza vou ganhar mais no segundo dente, não é?”. Eu respondi que não conhecia a logística de entrega da fada e que ele deveria esperar uma menor quantidade também. Com certeza o João esperava muito dinheiro!
Na manhã seguinte, logo após essa nossa conversa, o dente caiu. João estava se escovando quando ele decidiu sair. Meu filho fez a maior festa e você sabe, é claro, que a alegria não é pelo dente que vai nascer e sim, pelo dinheiro que a fada trará. Tudo errado hoje em dia! E eu não sei o porquê que dou continuidade a esses erros... pelos filhos, lógico.
João foi para a escola reluzente, de janela escancarada para que todos já pudessem imaginar o quanto traria de dindin a rica fada dos dentes. Eu já fui me preparando, separei o troco do estacionamento para a fatídica noite, para receber a ilustre visita. Só que meu marido precisou de uma quantia desse dinheiro e levou tudo, mas eu esperava ansiosa pelo troco. Voltaria uns cinco reais e o João ficaria muito satisfeito.
Quando meu marido voltou, o sol já havia pedido licença para descansar e a noite chegava de mansinho. Primeira coisa que eu quis saber, “Cadê o troco?”. “Que troco?”. “Como que troco? Do dinheiro que você pegou. Tem visita da fada hoje aqui em casa, esqueceu?” Claro que ele havia esquecido, na cabeça de um pai que trabalha enlouquecido o dia todo, não caberia um grave problema de dentes e de fadas. “Eu comprei uma truffa e uma água.” Acabou com a minha noite e com a manhã, consequentemente. Não tínhamos nenhuma nota, apenas um talão de cheque, mas acho que cheque, fada e João... não, com certeza não adiantaria. “Vai lá e diga alguma coisa para o menino”. Ele já estava na cama, com a caixinha do dente embaixo do travesseiro e nem era ainda a hora de dormir. “Filho, pode ser que a fada não venha. Pode ser que ela demore alguns dias para levar seu dentinho. Dois dias, por exemplo.”
Mas a fada não atrasa na casa dos amigos e não faltaria justo na sua vez. João foi dormir com esses pensamentos...
Madrugada do outro dia.
Quando amamentamos nós não dormimos e nem acordamos, ficamos em stand by. Eu estava assim às cinco da manhã depois que dei o mama para a bebê. Estava escuro e eu ouvi a descarga, tinha certeza que era o João se preparando para abrir a caixinha e encontrar seu tesouro deixado pela fada. Cutuquei o marido. “Acorda, vai lá com o João. Fica do lado dele neste momento.” Fecho os olhos, apago. Abro os olhos correndo e escuto um grito de choro: Buááááá! Chamo meu marido. “Eu já estou aqui, Lívia”. O João chorava incessantemente, decepcionado, sem dinheiro e com o dentinho ainda dentro da caixa. O meu marido contou aquela bobagem outra vez que ela demora dois dias e blá blá blá para os ouvidinhos do meu pequeno filho.
Esse era um caso para uma mãe e contei a seguinte história: “Filho, a fada veio sim! Eu estava acordada dando mama pra Helena e ela me viu. Disse que essa foi a última casa que passou e quando se deu conta, havia acabado o dinheiro dela. Muitos dentes andam caindo, não é mesmo? Só na sua turma são tantas crianças... E você nem sabe, sua irmã danada, disse pra fada que também queria dinheiro, que estava banguela, sem nenhum dente na boca e que merecia bastante dindin”. João riu nessa parte. “Ela volta, meu amor. Irá levar o seu dente e deixará seu dinheiro.” O choro passou, mas a decepção e a tristeza ainda eram grandes.
Primeira coisa que fiz, depois de deixá-lo na escola, foi tirar o dinheiro. Lá estava a nota de dez reais na caixinha quando João voltou para casa. “Mãe, dez reais! Eu falei que seria mais do que o primeiro! Só que meu amigo ganhou vinte, e era o primeiro dente dele que caiu!”. Respondi: “Está vendo porque ficou sem dindin pra você? Essa fada deixou tudo na casa do seu amigo!”. João passou ainda algumas horas segurando sua caixinha com seu dinheirinho, muito feliz e satisfeito.
Esse meu filho mais velho me ensina tanta coisa! A sua bondade, o seu “se contentar” com pouco, sua sensibilidade e gratidão. O João é uma criança especial que apareceu na minha vida para mostrar que o mundo pode ser menos complicado.
João com a janela aberta!
 

Um comentário:

  1. Lívia,
    Que saudade!! Morri de rir com essa história da fada do dente... Vc é ótima mesmo.
    E em outra história, dos medos, me lembrei de vc pedindo a noite: "Marimô, segura minha mão?!"
    Que saudade que sinto de vc.
    Continue escrevendo. Seus textos são uma delícia!
    Bj, Mari

    ResponderExcluir