quarta-feira, 20 de março de 2013

SOU MÃE DE MENINA!

               Foi um susto enorme! Era domingo a tarde e compramos aquele teste para tirar o peso do pensamento. Depois do xixi, pedi para meu filho mais velho olhar se havia apenas um risquinho. “Mãe, tem dois. Olha direito menino, não é brincadeira! Quantos riscos tem aí? Mãe, tem dois eu já falei!”. Parecia um pesadelo... eu vi com meus próprios olhos: dois risquinhos vermelhos. Vi também meu marido jogado na cama dizendo “Meu Deus, o que vamos fazer?”. Vi meu bebezinho engatinhando pela sala sem entender a dimensão daquele momento para a sua vidinha de apenas onze meses. Vi a casa pequena, o carro que não caberia três cadeiras, meu corpo, um barrigão, mais um parto... Vi o João colocando a mão na minha barriga e dizendo “Oba! Oi bebezinho!” Nãooooo, não faça isso! Era um pesadelo. 
 
                Eu carregava a culpa de não esperar, de não estar preparada, de ficar triste, de não querer contar pra ninguém... eu carregava a culpa de não estar feliz. Como? Era um filho e não uma doença mortal! Meu lado sensato dizia isso a toda hora. Só que sou gente, gente confusa, cheia de ambiguidades, gente de carne e osso. Demorei dias para fazer o exame de sangue, com alguma esperança de ser mesmo só um pesadelo, que tudo aquilo passaria. Mas, ainda bem, não era! Eu estava grávida novamente. Outro filho? Uma menina? Não, eu não imaginava a casa com outra mulher. 
 
                Demoramos para saber o que viria. Só sabíamos que viria mesmo! Na minha cabeça de mãe de dois meninos, cogitava apenas a ideia de mais um garotinho e todas as facilidades que isso geraria. Quarto azul, pronto! Roupas, checado! Carrinho e cadeirinha, OK também! Seria mais fácil encarar a gestação inesperada com a certeza de que teria tudo pronto para o bebê. Já imaginava o quarto dos meninos com três camas, uma triliche, meias e roupas jogadas, bola pela casa, bicicletas, puns e arrotos por todo lado. E eu, imperando em meio a tanta testosterona.
 
                Antes de engravidar pela terceira vez, achava que contaria com a sorte grande de ter noras maravilhosas. Elas que cuidariam de mim na velhice, ficariam no quarto do hospital, ganhariam as minhas “quase nada” relíquias femininas de família. Já havia me acostumado com essa ideia e iniciado a torcida (e escolha) de possíveis pretendentes para os meus meninos. Reviravolta de pensamentos... 
 
                Fomos fazer o exame, a ultrassonografia morfológica, e a família toda dentro daquela minúscula sala gelada da clínica. Os meninos corriam em volta da maca, gritavam, riam e se divertiam. Meu marido olhava para a tela procurando indícios do sexo do bebê e nem via a bagunça daquelas crianças. “Olha o pé! João e Lucas venham ver! Será que é um pé de jogador de futebol ou de uma bailarina?”. “Mãe, eu quero uma menina!”, “João, você precisa ficar feliz com o que vier, meu filho”. “Bom, teremos uma bailarina! É uma menina!”, disse a médica. Não tive como controlar as lágrimas! Eu, mãe de uma menina! 
 
                Ao final do exame, meu filho mais velho disse: “Tá vendo mãe, os anjinhos me escutam. Quando eu pedi um menino, veio o Lucas e agora eu pedi uma menina. Ela veio!”. Doces anjinhos que atendem as preces do João...
 
                A vida é misteriosa e imprevisível. “Só terei dois filhos”, não você será mãe de três. “Tá, mas só serão meninos”, não! Você terá uma menina. 
 
                Seria Helena. Não tivemos dúvida quanto ao nome. Mesmo com a minha avó dizendo que era um nome muito forte e de grande responsabilidade... achamos que nossa filha teria uma vida suficientemente importante para dar conta de se chamar HELENA. 
 
                Só que meus planos quanto às roupas, quarto, casa, carro... tudo foi por água abaixo. Ganhamos as primeiras roupinhas vermelhas de bolinhas. Parecia mentira! Teríamos uma menina em casa. Coisas de menina são lindas: rosinhas, lilás, sapatos de diversos modelos e cores, laçarotes, bolinhas, florzinhas e tudo mais que tiver “inhas” que você imaginar. Sabe, quando estava nas lojas comprando roupas para os meninos, pensava no tamanho da injustiça: o departamento masculino para crianças é mínimo, não tem quase nada de opção. Já o das meninas... uma loucura, roupa de tudo que é jeito! E lá estava eu, diante da amplitude feminina de consumo! 
 
                Helena nasceu no dia em que algumas pessoas acreditavam que o mundo acabaria. Seu parto marcou o fechamento de uma fábrica maternal e tudo correu bem, de uma forma especialmente tranquila e feliz. Era o parto de uma menina, que nasceu chorando pouco, mas muito forte e decidida: “Mãe, vamos nessa que eu tô com você!”. Eu sentia que estava cercada pela energia de muita garra, de todas as mulheres de outras gerações da minha família. Principalmente da minha avó paterna que foi a mensageira desse momento tão importante das nossas vidas.
 
               Engraçado, as pessoas me diziam, antes de saber o sexo do bebê: “Ai, você merece uma menininha igualzinha a você!”. Merecer? Bem, então eu mereci mesmo, só que outra vez, veio igual ao pai, ou melhor, uma versão feminina dos meus meninos! 
 
                Minha filha menina me olhou pela primeira vez nos olhos e compartilhou as delícias e sofrimentos da vida de uma mulher. Firmamos nossa parceria de sensibilidade e fortaleza, de dores e alegrias.  Estaremos juntas, para todo sempre, compactuando sentimentos femininos que só nós saberemos. E o mais importante: sem depender de noras!
Nosso primeiro encontro, de uma longa vida juntas!
 

Um comentário:

  1. Falou e disse! Uma vida de cumplicidade e grande amizade. Eu já me sinto assim com a minha pequena Maitê desde quando ela ainda estava na minha barriga.

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