sábado, 16 de março de 2013

ENTRE LÁGRIMAS, MANHAS, BERREIROS E CHORORÔ

               Alguma vez já te aconteceu de parar rapidamente para observar/procurar de onde vem o choro de uma criança? Parece algo instintivo, como se tocasse uma sirene dentro da gente: ouvimos o choro, paramos, procuramos de onde vem e pensamos “por que será que está chorando?”. Aí, quando identificamos a lamúria e o individuozinho que a produz, somos tomados por um nobre sentimento de pena: “Ah, coitadinho...”. 
 
                Mas quando estamos “do outro lado do choro”, com certeza ele soa bem diferente. 
 
                Uma das coisas que a tripla maternidade me deixou craque foi decifrar essa manifestação humana, o choro. 
 
                No começo eu era péssima e, para ajudar nesse processo dolorido da minha aprendizagem, meu primeiro filho veio com uma imensa capacidade pulmonar para chorar. Já saiu da barriga urrando forte, vermelho, querendo dizer “Meu Deus, onde é que eu fui parar!”. Logo que chegamos em casa da maternidade, ele já mostrou a que veio ao mundo: para me ensinar sobre o “chorar”. Ele tinha hora marcada, cinco da tarde começava o espetáculo. Hora pra terminar? Nem sempre, por volta das oito da noite. Não havia colo, dancinha, música, mama, funchicória, chupeta, braço... que o fizesse parar. Dor? Fome? Sede? Frio? Cada um que nos visitava dava um diagnóstico. 
 
                Você já percebeu a necessidade que as pessoas têm em diagnosticar o motivo do choro do seu filho? É incrível! Nessa hora todo mundo tem um pouco de pediatria no sangue. “Com certeza é dor! Posso saber o que você anda comendo? Vai tudo para o leite. Está nervosa? Passa para o bebê. Dá chá que é bom. Paninho quente ajuda! Colite aguda, põe no berço e deixa chorar. Infalível!”. 
 
                Só que na minha insanidade de mãe de primeira viagem, sempre recorria à benzedeira! Se é verdade? Não sei. Só sei que passava quando mandava benzer! (Isso ainda funciona aqui em casa). 
 
                Havia algo assustador no berço do meu filho mais velho, pois era incrível: o menino estava largado no colo, dormindo maravilhosamente. Era colocar no berço... e o bichinho urrava de chorar. Até que um dia, em meio ao choro incessante do João e no silêncio da nossa casa, o brinquedo, que ficava dependurado no tal berço, começou a tocar sua música sozinho. Detalhe: era preciso dar corda para funcionar. Coisas do além, de certo. Queimamos o brinquedo e o João começou a dormir melhor na sua caminha. Se eu acredito? Bom, digo que não duvido! 
 
                Naquela época em que eu era mãe de um, achava que choro matava o bebê. Sério, passa isso dentro da cabeça doida do pós-parto. O menino fazia “ãh!” e eu já estava desesperada com ele no colo, balançando e dizendo “vai passar, vai passar”. Vai passar o quê? A criança estava mamada, trocada, quentinha e tudo nos trinques. 
 
                E para eu tomar banho? Levava o João no carrinho para dentro do banheiro e quando ameaçava entrar no Box, fechava a porta devagarinho... ele chorava! Eu passava sabonete correndo, enlouquecida, me enrolava na toalha (ou às vezes nem dava tempo de fazer isso) e já colocava o menino no meu colo. “Vai passar, vai passar!”. Agora sei que essa frase que eu TANTO dizia, era pra mim mesma.  
 
                Para você ter uma noção da proporção do choro do meu primeiro filho, escute essa história. Fui ao salão de beleza que eu frequentava com ele no carrinho e esse salão dividia muro com o nosso prédio. Conversando com a manicure (que não sabia onde eu morava), comecei a contar sobre o parto, o dia a dia com o bebezinho e ela me falou bem séria: “Nossa, você não sabe, tem um bebê aqui nesse prédio que chora o dia inteirinho. Um horror! Não sei onde está essa mãe que não faz nada!”. Essa mãe estava na frente dela, perplexa com a frase. “Sou eu. Esse bebê é meu!”. Que situação... ela ficou constrangida e eu, boba de tudo, fiquei dando satisfação do choro do meu filho. 
 
                Mas o tempo e a quantidade de filhos faz com que a gente mude e aprenda a lidar com esse tipo de situação. 
 
                Com o meu segundo filho Lucas, foi ainda pior. Ele saiu chorando da barriga e não parou mais, até hoje, com quase dois anos de idade! Tanto é que, ainda na maternidade, tive que pedir CHORANDO para a enfermeira ficar um pouco com ele, pois eu não aguentava mais carregar e amamentar o tempo inteiro. Não havia trégua: era manhã, tarde, noite e madrugada com o Lucas chorando. A enfermeira até me aconselhou “Manda seu marido trazer chupeta pra esse garoto!”. Meu marido levou, só que esqueceu de ferver... 
 
                O Lucas ainda não consegue falar tudo o que tem vontade de dizer. Sua boca não acompanha seu pensamentozinho! Por isso ele chora demais. Quer falar, quer pedir, que reclamar e nós não entendemos nada. Aí ele chooooooora! Sem contar que desde o dia que a caçula chegou em casa e ele ouviu o chorinho dela, decidiu mudar. Parou de chorar? Não!!! Ele começou a chorar que nem ela. Mudança de choro! Lucas passa horas chorando, sem motivo, por costume e tradição. Um dia ele estava brincando e minha mãe conversava com a bebê do lado dele. Falou e falou com ela e o Lucas só ouvindo quieto. Depois, minha mãe se virou para ele e perguntou: “E você Luquinhas, tudo bem?”. Sabe gente idosa que só reclama e choraminga? Ele fez igual, começou a chorar devagarinho, como se estivesse fazendo uma lamentação: “Nada bem, vovó! Depois que essa bebê chegou, perdi o colo!”. 
 
                Já a Heleninha... menina, terceira filha, corajosa! Saiu da barriga chorando diferente: “Tô aqui! Agora seja o que Deus quiser!”. Ela não quer chupeta, dorme tranquila no meio do barulho e adora se agarrar nos pelos do peito do papai. Ela chora, claro! Mas agora a mãe dela já sabe que bebê não morre de chorar, por isso hoje consigo tomar banho, comer tranquila, olho meus e-mails, escrevo para o Blog, dentre outras coisas que antes não fazia. 
 
                As pessoas continuam a olhar preocupadas quando me veem passar com a Helena chorando no carrinho, ou quando estou comendo sossegada e ela a se esgoelar porque quer colo, balanço, ver o mundo de pé, como todos nós. Minha irmã acha que é um desrespeito deixar um bebê chorar num lugar público! Desrespeito comigo? Com a bebê? Não! Com as pessoas querem ficar em paz, e não ouvindo o choro de uma criança. O que eu faço? Bem, a mesma coisa quando escuto o choro de manha dos meus filhos: entra por um ouvido e sai pelo outro.  

 
                E vamos passear criançada, com choro ou sem choro. A vida continua ENTRE LÁGRIMAS, MANHAS, BERREIROS E CHORORÔ!

 

Um comentário:

  1. Eu também chorei... de rir! Tadinha de você, Lívia!!! E eu me reconheci nos personagens que ficam metendo o bico no choro alheio, rs...
    Beijo!
    Roberta

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