sábado, 2 de março de 2013

MEDO DE FICAR SOZINHA COM OS TRÊS

Sempre fui uma pessoa muito medrosa. Quando menina eu tinha medo de dormir na casa das amigas, tinha medo que meus pais se separassem, medo que minha mãe morresse, que meu coração parasse de repente, de ladrão, de alma penada, de ir pra escola e meus amigos favoritos faltarem, da morte... Eu tinha dor de barriga de medo! 
 
Mas agora, não mais uma menina, continuo a temer muitas coisas. Claro que minha lista mudou um pouco, bem pouco! Continuo com medo de ladrão, ou melhor, hoje chamamos de bandido. Ladrão só roubava na minha época. Hoje bandido mata por nada, às vezes. Novos medos entraram para a lista, como: andar de avião, doenças sem cura, sangue, tomar anestesia, perder o emprego e ... ficar sozinha em casa com os meus três filhos!
 
Parece loucura, mas desenvolvi esse pavor logo após o parto. Um sentimento intenso de não dar conta, pois ter três crianças foge do padrão “corporal” de uma mãe. Temos duas mãos, dois pés, dois braços, dois olhos, duas orelhas, dois rins... o máximo é dois! E o que eu faria sozinha com três?
Descobri essa semana o que fazer.
 
Todo final de tarde fico com as crianças na frente de casa, encontramos os vizinhos, brincamos, conversamos, passeamos e tudo isso sem choro e sem manha. Mas, quando chega a hora de entrar para jantar: entro em pânico – estou sozinha com os três.
 
Heleninha está no carrinho e começa a chorar, só que não é chorar: é urrar de nervoso! Ela fica vermelha, engasga, fica com o corpinho todo duro e esticado. Seu choro é agudo e prolongado...Domina o cérebro da gente! 
 
O Lucas senta animado para comer e quando olha para o prato, começa a chorar. Joga a colher, joga comida no chão e na mesa, fica chorando e gritando “Mamãe, mamãe”. Fala que quer descer da mesa, eu o desço. Depois ele grita que quer subir...
 
E o mais velho? Ele está quietinho comendo sua comida numa boa, parece que nem escuta aquele “forfé” de choro dos irmãos. Até isso me deixa nervosa. Bem que ele podia balançar o carrinho, conversar com a bebê ou pegar a colher do chão. Nada vezes nada. Tranquilidade em pessoa!
São seis e meia da tarde quando o espetáculo do choro começou. Eu precisava fazer alguma coisa. Balançar o carrinho pra ela ficar calma? Como? O Lucas implora por colo e diz “Sai bebê!” Choro e mais choro. Põe a menina no carrinho e carrega o Lucas. Ela entra num estado impressionante de nervoso, parece que vai ficar sem ar... desce o Lucas, carrega a Helena. O João? Continua comendo, numa boa.
 
Nessa hora eu sinto uma coisa dentro de mim, mas não posso sentir, não tenho esse direito. Respiro. Não tenho como fugir, “as travas de segurança estão todas ativadas”! Sento e assisto ao espetáculo do choro incessante que durou até quase oito da noite.
 
Até que me bate aquela fome. “Nossa, sou gente também, gente que amamenta e preciso comer.” Sorte que inventaram o Miojjo. Deixo a turma chorando – três minutos – e faço alguma coisa para comer e quando o prato está pronto: “Mãe, eu quero comer!”. E o prato que era meu, dividi com os meninos. “Depois que pari a barriga não enchi”, diz minha ajudante Sueli. Sabedoria popular!
De repente, um barulho, uma bomba que veio de dentro da bebê e encheu sua fralda P de um cocô amarelo e azedo. Incrível a calmaria que acalenta aquele corpinho de 50 e poucos centímetros. Ela pára de chorar. Ele também.
 
Silêncio. Parece mentira! Em menos de 30 minutos, depois de mamas, pijaminhas, trocas de fraldas, minha trupe já estava dormindo: primeiro o santo do João, depois a Helena e por último, o Lucas.
Venci mais um medo. Vencemos juntos! Ao olhá-los dormindo, sinto uma paz profunda em meu coração, sinto um misto de pena e ternura... sinto que estou mais forte do que nunca e que sou mãe de três com apenas duas mãos.
 

6 comentários:

  1. A-DO-RO quando você escreve! E seu eu já sinto o que não podemos sentir algumas vezes com apenas UMA Maitê, imagina com os trÊs que pretendo ter....

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    1. Obrigada amiga! Tem que apressar suas "encomendas", heim? Bjão

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  2. Oi, Lívia! Primeira vez no seu blog. Amei. Esse texto me fez lembrar de quando os meus filhos (também dois "meninos lindos e uma doce menininha") eram pequenos. Saudade daquele tempo.
    Saudade de vc.
    Bjão.

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  3. Lívia, que delícia são seus textos! Será que era mais simples ter três filhos antigamente? A minha mãe teve, a sua teve, sua tia teve e quantas outras tiveram! Não, não era mais simples... Era exatamente como vc conta. Lembra qdo vc era criança e seus irmãos tb? Eu me lembro? Era assim... E com certeza elas tb tiveram os seus medos. Adorei seu blog. Parabéns! Beijos, Ana Paula - irmã do Rodriguinho, que morava na rua de baixo, há muito tempo atrás!

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  4. Oi, Lívia!!a Marcia mandou seu blog por email e vim olhar!!mto bom!!!parabéns!!Deus continue te abençoando!!bjao

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